Na pílula passada, falamos sobre o “silogismo olavista”, destacado por João Cezar de Castro Rocha no livro “Guerra cultural e retórica do ódio”. No silogismo clássico toda conclusão deve decorrer de premissas.
Já no caso de Olavo de Carvalho, o raciocínio é invertido. Ele parte sempre da mesma conclusão, qual seja “o perigo comunista”, e, depois, adéqua as premissas a ela.
Vejamos um exemplo que seria cômico se não tivesse consequências muito sérias. Está num trecho do livro de Rocha:
Em outubro de 2019, a deputada federal Bia Kicis divulgou um vídeo caseiro no qual “militantes” das “Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia — Ejército del Pueblo” (FARC), falando espanhol com irresistível dicção carioca, ameaçavam iniciar a “luta armada” contra políticos do jaez de Jair Messias Bolsonaro, entre outras sandices.
A coisa era tão tosca que, em algumas horas, a deputada reconheceu a falsidade do material e retirou o vídeo de suas redes sociais.
Mas nada disso importa para Olavo de Carvalho. Dias depois, ele decidiu opinar sobre o caso no twitter:
Pouco importa que, em si, o vídeo das Farc seja fake. O sentido do que ele expressa é verdade pura. As Farc SÃO o inimigo principal do Bolsonaro, e têm inumeráveis colaboradores no Brasil.
E essa lógica delirante não para de ganhar adeptos.
O nome de Bia Kicis, por exemplo, está sendo cogitado para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal. Trata-se da mais importante comissão daquela casa legislativa.
Diante disso, difícil encontrar um silogismo que não tenha como conclusão a iminência de tragédias ainda maiores.
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