O período de 1930 a 1968 foi, sem sombra de dúvida, um dos mais trágicos do genocídio indígena no Brasil no decorrer do século 20, dizem Moema Viezzer e Marcelo Grondin em seu livro "Abya Yala!: Genocídio, resistência e sobrevivência dos povos originários".
Em 1967, relatam os autores, sob pressão internacional da imprensa e das embaixadas brasileiras, a ditadura criou uma Comissão de Investigação, sob a coordenação do procurador Jader de Figueiredo Correia. O documento final ficaria conhecido como Relatório Figueiredo.
Com sete mil páginas, o dossiê cobre o período de 1940 a 1968 e detalha assassinatos em massa, tortura, escravidão, guerra bacteriológica, abuso sexual, roubo de terras e negligência contra as populações indígenas, incluindo muitos grupos dizimados e outros completamente eliminados.
Nesse vergonhoso genocídio foram utilizados dinamites atiradas de aviões, contaminação proposital de varíola e doações de açúcar misturada a veneno. Também relatam-se inúmeros casos de cárcere privado, chicotadas, torturas, crucificações e escravização.
Um inquérito judicial acusou a participação de 134 funcionários em mais de mil crimes, mas apenas 38 foram demitidos e nenhum foi preso. Em março de 1968, funcionários que haviam participado da Comissão de Investigação foram exonerados e Jader Figueiredo foi transferido de Brasília para o Ceará.
Com a promulgação do AI-5 em 1968, o documento foi engavetado e ninguém mais teve coragem de mexer com os dados que ele disponibilizava.
Em 2013, o Relatório Figueiredo foi “descoberto” e encontra-se disponível ao público na internete em sua versão resumida. Sua leitura confirma que o genocídio indígena jamais foi coisa só da colônia ou império. Nem se resumiu a períodos ditatoriais.
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E tome barbárie contra os indígenas, não termina.
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