Doses maiores

21 de outubro de 2021

Round 6: assista, mas não se divirta

"Round 6" ou "Squid Game" é o nome da mais nova sensação entre as séries televisivas exibida pela Netflix.

A atração sul-coreana é sobre um grupo de pessoas que disputam um jogo para tentar ganhar um grande prêmio em dinheiro.

A punição pelo mal desempenho em cada fase é a eliminação. Literalmente. Os perdedores são executados a tiros.

É diversão de primeira. Mas também pretende ser uma crítica às contradições da sociedade contemporânea.

A começar pelo fato de que os participantes aceitam permanecer nesse jogo mortal devido a problemas com dívidas impagáveis.

Seria uma referência ao capitalismo como escravidão pelo endividamento. Não apenas de pessoas, mas de países inteiros, reféns das exigências sádicas feitas por instituições como o FMI. No jogo, como na vida real, mortes são apenas danos colaterais.

A facilidade com que uma selvagem competição se instala seria outro sintoma do atual estágio de patologia social, acentuado pela lógica neoliberal.

Um dos jogadores perdeu o emprego durante uma greve ferozmente reprimida nos anos 90. Desde então, viu-se condenado a buscar uma vida melhor de forma individualista e apostando em jogos de azar. 

Outros participantes, vítimas da pressão pelo sucesso a qualquer custo, transformaram alguns erros em fracassos paralisantes.

A própria transformação de jogos infantis em episódios sangrentos mostram a derrota da dimensão lúdica mais essencial para a crueldade imposta pela concorrência capitalista.

Alguns jogadores até tentam criar formas de resistência coletiva e solidária, mas a regra é cada um por si ou a formação de grupos nos moldes das gangues criminosas.

Enfim, vale assistir. Só fica estranho se você se divertir.

8 comentários:

  1. Sei não, vou assistir só porque indicou, tenho reservas sobre essas ficções que fazem críticas pela metade. O seu texto sobre a série está bom, mas acho que está fazendo a critica que a série deixou de fazer.

    ResponderExcluir
  2. Assisti o primeiro episódio. É pouco para comentar, mas acho que já dá para ter uma ideia do que a serie pretende. Como imaginava, as suas palavras vão além e aprofundam muito mais que o seriado, e isso não é crítica, entendo até como elogio, leituras de expressões artísticas servem para isso mesmo. Achei de boa qualidade estética o seriado, a apresentação da situação, a forma não chapada de apresentar o personagem e os em torno etc. Aí começa o jogo, o que deve interessar à maioria e não gostei, porque começa a fechar tudo, começa a apontar dedos, olhares e balas. Perde a sutileza, o que costuma não me agradar em arte. Ousadamente tendo a acreditar que as pessoas que assistem seriados assim veem a crítica (ela é evidente), mas pensam que isso faz parte do jogo e acabam torcendo para um vencedor. Mas OK, vou continuar vendo, acho que vale a pena.
    Mais uma coisa, os jogos são correlatos de brincadeiras infantis com suas maldades, disputas etc. De onde vem isso? Da humanidade, da sociedade, do capitalismo, feudalismo etc, ou seja, quando essas brincadeiras infantis de tais características começaram a existir? Caberia um estudo, não li ou vi nada assim. Sim, me parecem brincadeiras das sociedades divididas em classes, mas quem vê o seriado pode bem pensar que se trata da humanidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olha sobre a questão das brincadeiras e jogos na sociedade humana, um grande clássico é este livro aqui: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Homo_Ludens. "Homo Ludens", escrito pelo historiador holandês Johan Huizinga, publicado originalmente em 1938. Só li trechos há muitos anos.

      Excluir
  3. Gostei tio Serginho. Assistiu tudo? Eu já vi 4 vezes

    ResponderExcluir