Doses maiores

28 de outubro de 2021

O desastrado neoliberalismo de esquerda

O longo sucesso do neoliberalismo foi assegurado não apenas pela adesão das grandes formações políticas de direita a um novo projeto político de concorrência mundial, mas também pela porosidade da “esquerda moderna” aos grandes temas neoliberais.

A advertência acima é de Pierre Dardot e Christian Laval, no livro "A nova razão do mundo".

Segundo eles, a luta contra as desigualdades, que era central no projeto social-democrata, foi substituída pela “luta contra a pobreza”, segundo uma ideologia de “equidade” e “responsabilidade individual”.

Os autores citam o manifesto "A terceira via", assinado por Tony Blair e Gerhard Schröder, duas lideranças da social-democracia europeia. Publicado em 1999, o texto afirma, por exemplo, que a "livre competição entre os agentes de produção e a livre troca são essenciais para estimular a produtividade e o crescimento".

Outras pérolas do documento:

Na verdade, exageramos as fraquezas do mercado e subestimamos suas qualidades.

É necessário promover uma mentalidade de vencedor e um novo espírito de empreendimento em todos níveis da sociedade.

Queremos uma sociedade que honre seus empresários, como faz com os artistas e os jogadores de futebol, e volte a valorizar a criatividade em todos os domínios da vida.

O equívoco aqui é a ilusão de que a racionalidade neoliberal pode ser colocada a serviço do bem coletivo. Mas um e outro nunca foram compatíveis.

Ideias semelhantes se espalharam pelo mundo. Inclusive no Brasil, onde social-democratas modernosos as adotaram entusiasmadamente. Já os socialistas de gabinete que vieram depois tentaram restringi-las ao nível econômico.

Com isso, as causas estruturais da imensa injustiça social do País permaneceram intocadas. A extrema-direita agradece os serviços prestados.

Leia também: Neoliberalismo: a democracia como mal desnecessário

2 comentários:

  1. Há um ditado que vi certa vez que diz: "essa é a esquerda que a direita gosta". Que digam os governos autodeclarados social-democratas.
    Abração!

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