Em seu livro "A nova razão do mundo", Pierre Dardot e Christian Laval buscam definir o neoliberalismo como um modo geral de governo, que vai muito além da “esfera econômica” no sentido habitual do termo.
Essa abordagem os autores foram buscar na obra de Michel Foucault. Para eles, o filósofo francês:
Compreendeu, contra o economicismo, que não se podem isolar as lutas dos trabalhadores das lutas das mulheres, dos estudantes, dos artistas e dos doentes, e pressentiu que a reformulação dos modos de governo dos indivíduos nos diversos setores da sociedade e as respostas dadas às lutas sociais e culturais estavam encontrando, com o neoliberalismo, uma possível coerência teórica e prática. Interessando-se de perto pela história do governo liberal, ele mostra que aquilo que chamamos desde o século XVIII de “economia” está no fundamento de um conjunto de dispositivos de controle da população e de orientação das condutas (a “biopolítica”) que vão encontrar no neoliberalismo uma sistematização inédita.
Tal análise, dizem eles, vai ao encontro de uma das intuições mais profundas de Marx, que compreendeu muito bem que um sistema econômico de produção é também um sistema antropológico de produção.
Desse modo, compreendem a crise atual não mais como consequência de um “excesso de finanças”, um efeito da “ditadura dos mercados” ou uma “colonização” dos Estados pelo capital. Trata-se de uma crise global do neoliberalismo como modo de governar as sociedades.
Seria uma crise geral da “governamentalidade neoliberal”, isto é, de um modo de governo das economias e das sociedades baseado na generalização do mercado e da concorrência.
Voltaremos ao tema nas próximas pílulas.
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