Em 20/11, O delegado de
polícia Orlando Zaccone publicou no facebook duas imagens. A primeira é uma
foto da grande imprensa mostrando policiais reprimindo com cassetetes supostos
ladrões em uma praia do Rio de Janeiro. A outra, uma gravura de Jean-Baptiste
Debret, em que um escravo é castigado com chibatadas.
Em ambas, tanto quem bate
como quem apanha tem a pele escura. Daí o comentário de Zaccone sobre o Dia da Consciência
Negra: “Museu de grandes novidades!” O fato de que negros ainda reprimam negros
mostra que algumas coisas mudaram para tudo ficar do mesmo jeito.
Mas a referência a Debret chama
a atenção para outra questão. O pintor integrava a Missão Artística Francesa que
chegou ao Rio de Janeiro em 1816. Ele e outros artistas estrangeiros eram os
únicos a retratar situações cotidianas. Seus colegas brasileiros só pintavam belas
cenas e cenários.
Um exemplo famoso é o quadro “A
Primeira Missa no Brasil”, de Victor Meirelles. Nele, os índios assistem à cerimônia
encantados. Como se a religião do europeu finalmente lhes revelasse a verdade
sagrada. Nenhuma referência à conversão forçada de que foram vítimas.
Enquanto isso, Debret e seus
colegas mostravam indígenas e negros submetidos a trabalhos pesados e cansativos.
Vitimados por castigos e maus tratos. O que os pintores brasileiros escondiam com
suas belas paisagens e cenas da corte, os estrangeiros mostravam.
Os atuais jornais também gostam
de mostrar o cotidiano. Mas quando se trata de retratar a gente pobre e preta, o
objetivo é quase sempre justificar a violência com que deve ser tratada. Como nos
tempos de Debret, ainda celebram a chibata.
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