Doses maiores

7 de novembro de 2013

O país do “estupra, mas não mata”

Na campanha presidencial de 1989, Paulo Maluf disse uma frase que ficou tristemente famosa. Perguntado sobre a violência contra mulheres, ele se dirigiu aos estupradores dizendo: “Tá bom, está com vontade sexual, estupra, mas não mata”. Décadas depois, essa repugnante tolerância em relação à violência sexual contra mulheres continua firme.

Em 2012, o número de estupros registrados no Brasil foi maior que o de homicídios dolosos (com intenção de matar). Os dados são da 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A publicação mostra 50.617 casos de estupro, contra 47.136 assassinatos. O aumento de 18,17% em relação a 2011 dá ao País um vergonhoso primeiro lugar no mundo.

Em 2006, foi aprovada a Lei Maria da Penha, tornando mais rigorosas as punições para agressões contra mulheres em casa ou na família. Desde então, o número de casos registrados cresceu 600%. Mas dados que envolvem violência contra mulheres padecem de um problema crônico. É difícil saber se eles aumentam ou diminuem variando com a ocorrência de casos ou apenas com sua denúncia.

Mas há outros indicadores que fazem suspeitar do pior. O Ministério da Saúde, por exemplo, dispõe de apenas 65 serviços para realizar abortos em vítimas de estupro em todo o país. São apenas 410 “delegacias da mulher” no território nacional, a grande maioria nas grandes cidades. A enorme presença da mulher como coisa de que se pode dispor na publicidade e na grande mídia dispensa comentários.

Mesmo que os números estejam distorcidos para pior, vivemos numa sociedade que acha possível oferecer à mulher o estupro em troca de sua vida.

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