Dilma no Brasil, Tsipras na Grécia. A ideia de traição política vem logo à mente de
muitos socialistas. Mas qual seria o elemento estrutural a provocar esse tipo
de fenômeno político? Como explicá-lo sem nos limitar ao campo da ética?
Talvez, uma entrevista do ganhador do Nobel de Economia, Joseph Stiglitz,
publicada no El País, em 01/10, ofereça algumas pistas.
No depoimento “Os Estados Unidos criaram a classe média e agora a estão
destruindo”, o professor da Universidade de Columbia, em Nova York, denuncia
principalmente a desigualdade nas sociedades mais ricas.
Afirma que não há recuperação da economia americana, a não ser para 1% de sua
sociedade. Afinal, diz ele, “os afro-americanos não se recuperaram, os salários
norte-americanos não se recuperaram... “
Stiglitz também cita a Espanha, afirmando que é um absurdo dizer que o país
deixou a crise porque o desemprego passou de 25% para 23%. “O Banco Central
Europeu só está preocupado com a inflação, diz ele, ao passo que o problema são
os 50% de desemprego juvenil”.
E o que está na raiz da crise europeia? Um pedaço de papel chamado euro, afirma
o entrevistado. E qual é o resultado da circulação desse pedaço de papel?
“Recessão, um desastre econômico e divisão”, conclui.
Na Grécia, esse modelo fracassado foi rejeitado por seu povo. Mas a vitoriosa e
vergonhosa reviravolta do Syriza mostrou que a crença no “pedaço de papel” continua
forte. É a lógica da circulação do capital estrangulando outras possibilidades
que não sejam as ditadas pela ortodoxia do mercado.
Enquanto nos limitarmos à política dos gabinetes, a economia continuará
sufocando a sociedade.
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