O marxista húngaro George Lukács dava grande importância à ideia de
“afastamento das barreiras naturais”. O conceito foi criado por Marx para
descrever um traço essencial da espécie humana.
O surgimento da agricultura e da criação de animais, por exemplo,
permitiu que nos livrássemos da obrigação de nos deslocar atrás de bichos e
plantas para nos alimentar. Desse modo, afastamos a barreira natural que nos
condenava ao nomadismo.
O bicho humano é biologicamente incapaz de voar. Demorou, mas essa
limitação natural também foi afastada.
O problema é que forçar os limites naturais também pode nos aproximar
de situações perigosas para nossa sobrevivência. É o que mostram os inúmeros desastres
ecológicos na história da humanidade.
Mas as coisas começaram a ficar perigosas mesmo quando a Revolução
Industrial levou esse processo a um ritmo, alcance e intensidade inéditos.
Desde então, passamos a destruir barreiras naturais pelo planeta todo na insana
busca por lucros.
Um exemplo é o elevado nível de desmatamento para exploração de
madeira e desenvolvimento da agropecuária destruidora. As consequências não são
apenas climáticas.
Tudo indica que a destruição de matas e florestas vem tirando diversas
patologias de seu isolamento original. Este pode ser o caso do atual surto de
febre amarela no País.
Mas são fortes as suspeitas de que a terrível destruição causada pelo
acidente da Samarco ocorrido em 2015 também esteja contribuindo.
Além da negligência criminosa dos governos, trata-se de uma opção
civilizacional em favor de poderosos interesses econômicos.
Ou seja, se afastar as barreiras naturais faz parte de nossa condição humana,
destruir as barragens do capital tornou-se fundamental para a nossa sobrevivência.
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