O
livro “O Ano I da Revolução Russa”, de Victor Serge, ficou famoso por homenagear
os acontecimentos de 1917 sem perder o olhar crítico. Mas o trecho que, talvez, melhor represente o que ele pensava da
Revolução está numa carta publicada na revista estadunidense “New International”,
em 1939:
É comum dizer que “o germe de todo o estalinismo
estava no bolchevismo já em seu início". Não faço objeções. Mas o
bolchevismo continha outros germes, uma grande quantidade de outros germes, e
quem vivenciou o entusiasmo dos primeiros anos da primeira revolução socialista
bem sucedida não pode esquecê-la. É sensato julgar o homem vivo pelos germes
que a autópsia revela em seu cadáver, e que podem estar dentro dele desde o seu
nascimento?
O
soviético Vassili Grossman terminou de escrever “Vida e Destino” em 1960. Considerada
uma espécie de “Guerra e Paz” da Segunda Guerra, a obra relata tanto os
horrores nazistas, como os crimes stalinistas. Por isso, o livro ficou proibido
até depois de sua morte, em 1964. O trecho abaixo ajuda a entender porque:
Havia sido arrancado o couro do corpo vivo da
revolução, e um novo tempo queria se vestir com ele, enquanto a carne viva e
ensanguentada, as entranhas fumegantes da revolução proletária iam para o lixo,
o novo tempo não precisava delas. Precisava da pele da revolução, essa casca
era arrancada das pessoas vivas. Os que se cobriam com a pele da revolução
falavam suas palavras e repetiam seus gestos, mas possuíam outro cérebro,
outros pulmões, fígado, olhos.
A
inspirar os dois trechos, o mesmo evento histórico. Imenso e trágico.
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