Moema - Bernardelli |
As mitocôndrias são
elementos essenciais de grande parte de nossas células. E na grande maioria dos
animais, apenas o DNA mitocondrial materno (mtDNA) é passado de geração para
geração. Algo que jamais acontece com o DNA mitocondrial paterno.
Isso significa que o
mtDNA de toda uma determinada população é derivado de uma única ancestral
comum. O equivalente genético para determinar linhagens paternas é o cromossomo
Y, exclusivamente masculino.
Essa pequena
introdução serve apenas para destacar um trecho do livro “1499: O Brasil antes
de Cabral”, de Reinaldo José Lopes. Segundo ele, as mais recentes pesquisas
genéticas utilizando o mtDNA descobriram que “entre 20% e 30% dos brasileiros
vivos hoje descendem de uma tataravó índia”. Mas:
Sabe
quantos brasileiros, de qualquer cor de pele, carregam hoje um cromossomo Y
indígena? Quase nenhum — com exceção dos que ainda se identificam como membros
de uma tribo ameríndia, obviamente. Esse tipo de assimetria é típico de
populações conquistadas em todos os tempos e em qualquer lugar do mundo,
infelizmente. Os israelitas da Bíblia, os macedônios de Alexandre, o Grande, os
mongóis de Genghis Khan e, óbvio, os portugueses de Martim Afonso de Souza
sempre seguiram basicamente o mesmo figurino: numa operação de conquista, os
homens dos grupos vencidos são mortos ou escravizados, e as mulheres viram
concubinas. Nenhum outro modelo é capaz de explicar o tamanho da diferença
entre o que enxergamos nas duas rotas paralelas, a do mtDNA e a do cromossomo
Y.
Ou seja, por séculos,
grande parte da invasão europeia das terras brasileiras foi baseada no estupro
de mulheres indígenas. E não apenas delas, claro.
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