Publicado em 1944 por Eric Williams, “Capitalismo e escravidão” foi o primeiro
livro a demonstrar a profunda vinculação entre o nascimento do capitalismo
industrial na Europa e a escravização negra nas Américas.
Em um trecho da obra, o autor descreve uma campanha envolvendo o que hoje
chamaríamos de “consumo consciente”.
Por um cálculo matemático feito na época, se uma família média inglesa deixasse de consumir açúcar por 21 meses, um negro seria poupado de
escravização ou morte.
Para muitos abolicionistas britânicos, o consumidor de açúcar era "o
principal motor, a grande causa de toda a horrível injustiça" envolvida na
escravidão.
A solução? Substituir o açúcar das Índias
Ocidentais pelo que vinha das Índias Orientais. Ou seja, substituir o consumo do
produto americano pelo indiano.
Havia até um folheto intitulado "Queixa do escravo negro aos
amigos da humanidade". Nele, um negro implorava:
Massa, você que é amigo da liberdade, tenha pena do
pobre negro. Eu imploro, compre o açúcar do Oriente, não compre açúcar escravo.
Segundo os promotores da campanha, agindo desse modo, os consumidores estariam minando
o sistema escravista da maneira mais segura, fácil e eficaz.
Mas só faltava uma coisa: abolir a escravidão na Índia. E o máximo que
a dominação britânica conseguiu, naquele momento, foi propor uma legislação para
"melhorar" a escravidão naqueles territórios.
O que realmente estava por trás do apoio abolicionista à produção das Índias
Orientais não era apenas a desumanidade da escravidão, mas a crescente falta de
rentabilidade do monopólio açucareiro nas Américas.
Se o consumo consciente não abalou o capitalismo quando envolvia o
comércio legalizado de escravos, muito menos agora.
Leia também: Conciliar capitalismo e consumo consciente
não dá
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