No
livro “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda criou o conceito de “homem
cordial” para descrever o que seria o “caráter brasileiro”.
Mas
ao contrário do que se costuma pensar, cordialidade, aqui, não é sinônimo apenas
de gentileza. Segundo o historiador, a “inimizade bem pode ser tão cordial como
a amizade, nisto que uma e outra nascem do coração, procedem, assim, da esfera
do íntimo, do familiar, do privado”.
O
filme “O animal cordial”, de Gabriela Amaral Almeida, foi lançado recentemente.
A época não poderia ser mais adequada. Nele, o personagem de Murilo Benício é
dono de um pequeno restaurante, com uma carta de vinhos caros e um cardápio que
inclui carnes tão exóticas como a de javali.
A
“cordialidade” do pequeno proprietário está no desprezo por seus empregados. Na
repulsa que sente por seu talentoso cozinheiro, gay assumido e consciente de
sua competência profissional. Na raiva de sua mulher, que julga ociosa e perdulária.
Tudo
muito privado. Tudo muito família.
O
animal cordial comporta-se em seu restaurante como uma fera em sua matilha. Sua
valentia de macho alfa certificada por uma pistola sob o balcão. Sempre pronto
a fazer justiça entre as quatro paredes que administra como um rancho texano.
Se
fosse preciso, alvejaria todos os que ameacem seus valores. Tanto os
subalternos assalariados como os criminosos, claro. Mas seus clientes, também.
O
animal cordial transpira biologia. Sistema límbico na chefia. O coração bombeia
adrenalina e envia seus comandos diretamente ao dedo no gatilho.
Há
quem classifique “O animal cordial” como filme de terror. É mais que isso. É quase
um documentário.
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Parabéns!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirAbraço