Doses maiores

18 de julho de 2019

Capitalismo de vigilância e neofeudalismo

Shoshana Zuboff é professora da Harvard Business School e autora de “The Age of Surveillance Capitalism” (A era do capitalismo de vigilância), ainda sem tradução.

A obra denuncia o enorme poder dos novíssimos monopólios digitais. Em especial, a Google. Mas também alerta para os traços neofeudais da atual fase do capitalismo.

Comecemos pelo que a autora chama de “primeira modernidade”. Trata-se do advento do capitalismo, que tornou a vida “uma realidade em aberto a ser descoberta e não uma certeza a ser encenada”. Assim, com o devido esforço, você poderia ter casa própria, automóvel e muitos eletrodomésticos.

Por volta da segunda metade do século 20, a "segunda modernidade" permite a centenas de milhões de pessoas acesso a experiências antes restritas a poucos: educação universitária, viagens, maior expectativa de vida, aumento do padrão de vida, amplo acesso a bens de consumo etc.

Já no final do século passado, surge o culto neoliberal ao esforço individual acima de tudo e todos. Mas com ele também veio uma enorme concentração de renda e patrimônio. Tornou-se flagrante o predomínio da riqueza herdada sobre a conquista meritocrática, tal como acontecia no feudalismo.

Mas como contradições nunca deixam de surgir, no início deste século, a internete se espalha pelo mundo. Traz consigo um enorme potencial de produção colaborativa e sociabilidade compartilhada. Expectativa rapidamente frustrada pelo surgimento de monstros digitais como Google e Facebook.

A esperança da autora é a fundação de uma “terceira modernidade” baseada em “um novo capitalismo digital racional”, apoiado “por instituições democráticas”.

Mas é mais fácil voltarmos ao feudalismo que combinar capitalismo com racionalidade e democracia.

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