Christophe Guilluy é um geógrafo francês
que enxerga em várias sociedades pelo planeta uma separação entre “os que estão
integrados na economia globalizada e os que não, entre os que gozam de
referências culturais de prestígio e os que não”.
Em entrevista publicada pelo portal Letras Libres, em 08/07/2019, ele discorre sobre esse tema, denunciando
que alguns setores importantes da esquerda mundial abandonaram a centralidade dos
conflitos de classe em favor de um identitarismo liberal.
Mas diante da onda conservadora que se
espalha mundo afora, Guilluy também alerta para o risco de um antifascismo conveniente
aos interesses dos poderosos:
É assombroso ver que os intelectuais e
as classes dominantes, por um lado, se esqueceram da classe trabalhadora e, por
outro, utilizaram as minorias para se proteger. Eles as exploram e, por sua
vez, a nova burguesia utilizou a arma do antifascismo para desestimular
qualquer reivindicação social.
Referindo-se ao movimento dos coletes
amarelos, que toma as ruas de Paris e de outras cidades francesas desde
novembro de 2018, ele diz:
Quando surgiram, em seguia, dizia-se:
são fascistas, são antissemitas... Era uma técnica retórica que permite
deslegitimar qualquer reivindicação total, permite fazer com que a burguesia se
proteja. Por isso, digo que, na atualidade, o antifascismo não é um combate
contra o fascismo, mas, ao contrário, uma retórica que é uma arma de classe
para se proteger das reivindicações sociais da classe trabalhadora.
Talvez, as conclusões de Guilluy se adequem
melhor à situação europeia, mas é importante atentar para a possibilidade do
surgimento desse antifascismo burguês entre nós. Se é que ele já não está por
aí.
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