Doses maiores

16 de julho de 2019

A bomba-relógio da frustração social

Waldir José de Quadros é professor do Instituto de Economia da Unicamp. Estudioso da estrutura social do País, ele concedeu entrevista para a IHU-Online, publicada em 14/06/2019.

Utilizando dados da última pesquisa nacional domiciliar do IBGE, o professor concluiu que em 2016 encerrou-se o que ele chamou de período “de mobilidade ascendente e de progresso social” no Brasil.

Devido a isso, Quadros deixou de trabalhar com a categoria ‘“baixa classe média’. Estou chamando essa categoria de ‘camada superior dos pobres’, porque a crise está provocando um empobrecimento das estruturas sociais”.

Nessa nova classificação, a camada “superior dos pobres” equivaleria a 40% das pessoas ocupadas, 27% seriam “pobres” e 13%, “miseráveis”. No total, corresponderiam a 80% daqueles que trabalham.

Mas o mais “assustador”, diz Quadros, é que, segundo o nível de escolaridade, há 12,9 milhões de trabalhadores pobres com nível superior completo ou incompleto. Para ele:

Isso significa confusão. Esse pessoal não vai aceitar essa condição tranquilamente, porque eles foram fazer faculdade, boa parte pagando a mensalidade com o Fies, esperando uma melhora de vida, e agora não tem melhora.

Esta situação levaria à criação do que o pesquisador chamou de “bomba-relógio” social.

Aceitas essas conclusões, seria possível dizer que dois momentos marcaram a armação dessa bomba no Brasil: Junho de 2013 e as eleições de 2018.

Mas o próprio artefato explosivo é produto não apenas de uma das sociedades mais injustas do planeta, mas de um sistema mundial em franca decadência.

É o capitalismo cada vez mais parecido com formas históricas que o antecederam, como as sociedades de casta e o feudalismo. Voltaremos a isso.

Leia também: Uber: de volta ao século 19

2 comentários:

  1. Sérgio, que bela pílula. Li a mais recente, que trata do neofeudalismo. Sabe que desconfiei muito desse ponto, com base em observações do cotidiano? Aumento do desemprego e da violência. Sim, isso é reflexo muito duro da decadência do neoliberalismo mundial, q também afeta dramaticamente as relações socioambientais por exploração desenfreada dos recursos naturais, q constituem mais elemento combustível para a bomba-relógio social, a ser mais adiantada e desastrosa quanto mais injusta for a sociedade. E a brasileira pode ser um exemplo notório.

    Bjs!

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    1. Realmente, tá difícil ser otimista ultimamente.

      Obrigado pelos comentários, Salete

      Beijos

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