Doses maiores

16 de outubro de 2019

A cor da instabilidade

Raúl Zibechi é escritor e jornalista uruguaio. Em recente artigo, ele resumiu assim a situação política no continente sul-americano:

O fim da governabilidade, própria dos primeiros anos do progressismo, é de caráter estrutural e tem pouca relação com os governos. O ciclo progressista se solidificou nos altos preços das commodities, com grandes superávits comerciais que untaram as políticas sociais. Melhorar a renda dos mais pobres sem tocar na riqueza foi o milagre progressista.

Esse consenso terminou com a crise de 2008 e a guerra comercial Estados Unidos-China não faz mais que aprofundar a instabilidade. Não é possível continuar melhorando a situação dos setores populares sem tocar na riqueza e os governos que se afirmam progressistas não farão outra coisa a não ser aprofundar o extrativismo e a desapropriação dos povos: Andrés Manuel López Obrador e o possível governo de Alberto Fernández são parte dessa realidade.

O panorama dos próximos anos será uma sucessão de governos, progressistas e conservadores, com um cenário de vastas mobilizações populares. Trata-se do fim da estabilidade, de qualquer cor.

O grande problema desse cenário é a forte tendência de “governos progressistas e conservadores” inclinarem-se à direita. Os últimos por vocação. Os primeiros porque procuram melhorar o que não pode ser melhorado. Aí, é recuo atrás de recuo. Se foi assim no “auge das commodities”, será pior em uma situação recessiva.

Um capitalismo instável exige radicalização. É o que o capital vem fazendo, ao apoiar governos protofascistas pelo mundo. A esquerda deveria fazer o mesmo, mas longe dos governos e grudada nas lutas.

Nada de tons róseos. A instabilidade tem que ser vermelha.

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2 comentários:

  1. Muito bom, muito mesmo. Acho que com esses governos ideológicos "proto", "neo" ou qualquer outro agregado ao fascismo e nazismo, temos que travar a luta ideológica comunista. Ah sim, talvez não tenha sido necessário dizer, mas quando traça o quadro de governos progressistas que concederam melhorias na qualidade de vida aos extratos populares ancorado nos altos preços dos commodities, só consigo pensar no PT. Bjs.

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  2. Sim, mas Venezuela, Equador e Bolívia, também. A diferença é que a Bolívia vem conseguindo se segurar. Argentina, Colômbia e Uruguai dependem disso em menor medida, mas a condição de fornecedor de matéria-prima, sujeito aos caprichos do comércio externo dominado pelo imperialismo continua sem alterações para todos.

    Beijo

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