Outro bom artigo sobre
o filme de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles é de Rodrigo Guimarães Nunes,
professor de filosofia da PUC-Rio. Para ele, Bacurau procura “vingar” uma
violência que é “passada, presente e futura”. Ela:
...existe
nas fronteiras do capitalismo e do Estado. É a violência a que estão expostos
aqueles que, sem nunca serem incluídos por completo nem nos serviços públicos
nem no mercado, podem a qualquer momento se tornar objetos do poder político ou
do interesse econômico.
Bacurau seria uma “projeção
bastante lúcida” de um futuro em que há:
...cada
vez mais bolsões de pessoas deixadas às margens, sem acesso aos benefícios do
desenvolvimento, mas sempre sujeitas a terem uma última gota de rentabilidade
extraída de si (o abastecimento de água cortado, o safári humano como serviço
de luxo). Em que as populações “excedentes” se tornaram tão numerosas que seu
manejo é feito ao ar livre, em execuções em massa exibidas pela televisão.
E conclui:
Quem
viu os discursos de Donald Trump e Jair Bolsonaro na ONU reconhecerá este
cenário. O negacionismo climático não é burrice, mas a aposta de setores que já
assumiram que a manutenção de suas condições atuais de vida tornou-se
incompatível com a sobrevivência da grande maioria. O antiglobalismo não é um
desvario, mas a justificativa ideológica de quem já percebeu que, sem uma
correção radical de rumo – justamente o que eles querem evitar –, o capitalismo
não dá mais para todo mundo.
É a utilização fria e
calculada da barbárie para resolver os problemas do capitalismo, não da
humanidade. Difícil discordar. Necessário resistir.
O artigo está disponível aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário