Doses maiores

9 de outubro de 2019

Bacurau ou o apocalipse programado

Outro bom artigo sobre o filme de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles é de Rodrigo Guimarães Nunes, professor de filosofia da PUC-Rio. Para ele, Bacurau procura “vingar” uma violência que é “passada, presente e futura”. Ela:

...existe nas fronteiras do capitalismo e do Estado. É a violência a que estão expostos aqueles que, sem nunca serem incluídos por completo nem nos serviços públicos nem no mercado, podem a qualquer momento se tornar objetos do poder político ou do interesse econômico.

Bacurau seria uma “projeção bastante lúcida” de um futuro em que há:

...cada vez mais bolsões de pessoas deixadas às margens, sem acesso aos benefícios do desenvolvimento, mas sempre sujeitas a terem uma última gota de rentabilidade extraída de si (o abastecimento de água cortado, o safári humano como serviço de luxo). Em que as populações “excedentes” se tornaram tão numerosas que seu manejo é feito ao ar livre, em execuções em massa exibidas pela televisão.

E conclui:

Quem viu os discursos de Donald Trump e Jair Bolsonaro na ONU reconhecerá este cenário. O negacionismo climático não é burrice, mas a aposta de setores que já assumiram que a manutenção de suas condições atuais de vida tornou-se incompatível com a sobrevivência da grande maioria. O antiglobalismo não é um desvario, mas a justificativa ideológica de quem já percebeu que, sem uma correção radical de rumo – justamente o que eles querem evitar –, o capitalismo não dá mais para todo mundo.

É a utilização fria e calculada da barbárie para resolver os problemas do capitalismo, não da humanidade. Difícil discordar. Necessário resistir.

O artigo está disponível aqui.

Leia também: Bacurau: a esquerda sem chão e sem lugar

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