Doses maiores

11 de outubro de 2019

Da ausência de controle ao descontrole

Quando surgimos, éramos mais um animal extremamente dependente das forças da natureza. Não procurávamos controlá-las, mas negociar com elas. Principalmente, por meio da religiosidade.

Quando aprendemos a criar animais e plantas, dominar sua reprodução fez surgir a expectativa de obter controle sobre o que nos parecia desordenado.  

A produção aumentou. Surgiram os primeiros estoques e sua administração e proteção passaram a ser tarefa de um coletivo separado do restante da comunidade. O controle das forças naturais passou a incluir o controle de uma minoria supervisora sobre a maioria produtora. Surgia o Estado.

Mas o salto, mesmo, veio com o domínio do vapor, da eletricidade, do petróleo... Passamos definitivamente a pensar que nosso destino era colocar toda a natureza a nosso serviço. Ainda que a serviço, principalmente, da costumeira e cada vez mais restrita minoria.

A natureza tem leis. Mas passamos a considerar seu funcionamento espontâneo como o império da desordem. Confundimos acaso com caos. E não à toa, a teoria do caos surgiu a partir das pesquisas meteorológicas. Nos estudos do clima, é preciso respeitar forças poderosas. Não há como domesticá-las.

Mas aquela pretensão de controle surgida junto com a lavoura e os currais teima. Capitalistas e governos se recusam, por exemplo, a aprender com as experiências bem menos traumáticas dos povos indígenas em sua relação com as forças naturais. Ao contrário, tratam tais povos, eles próprios, como elementos telúricos a serem subjugados.

O resultado aparece ostensivo no colapso climático e social que nos ameaça. No horizonte, o caos. Mas o caos humano, minúsculo em meio à imensa e impassível ordem natural. No comando, capitães descontrolados.

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