Em 1871, ano da Comuna, Pyotr Kropotkin já havia abandonado sua origem aristocrática para militar pelo anarquismo. Mas como secretário da Sociedade Geográfica Imperial de São Petersburgo, estava em missão de reconhecimento na Finlândia. Na mesma época, o marxista William Morris viajava pelo interior da Islândia.
O que a Finlândia ensinou a Kropotkin foi muito semelhante ao que a Islândia mostrou a Morris: apesar da grande pobreza, finlandeses e islandeses levavam uma vida simples, baseada na ausência de hábitos fúteis. Praticavam uma forma de luxo comunitário, arrisca-se a dizer Kristin Ross, em seu livro “Luxo Comunal: o imaginário político da Comuna de Paris”.
Os anos passados em meio às extensões geladas da Sibéria podem ter permitido a Kropotkin ver na Comuna de Paris o que se tornaria, para ele, um exemplo do esforço cooperativo sob condições extremamente duras.
Para Morris, a Islândia foi uma espécie de cápsula do tempo, em que os vestígios de um antigo modo de vida comunitário e democrático ainda podiam ser detectados na autogestão e no ritmo diário de suas relações sociais.
Tais povos estavam ligados, como em outras sociedades pré-capitalistas, por afinidades, proximidades ou mesmo ódio e hostilidade, mas de forma alguma por dinheiro.
Para ambos os viajantes, essas experiências, diz a autora, sublinhavam ou coroavam, de alguma forma, os efeitos da extraordinária notícia do que acabara de acontecer em Paris.
A Comuna abriu uma espécie de fenda no tempo, que permitia enxergar um passado comunitário acontecendo no presente de uma grande cidade europeia. Comunistas do mundo todo deram uma espiada e viram o futuro. Incluindo, claro, Marx e Engels.
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Que bom, bela viagem. O que nos remete a uma necessidade de todos conhecerem outros mundos, lógico, sem fronteiras.
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