Doses maiores

17 de maio de 2021

Paris nunca foi tão luxuosa como durante a Comuna

“Embora eu faça sapatos, tenho direito a tanto respeito quanto aqueles que acreditam trabalhar segurando uma pena”. Essas palavras são de Napoleão Gaillard e estão no livro “Luxo Comunal: o imaginário político da Comuna de Paris”, de Kristin Ross. Elas servem para mostrar uma das mais radicais inovações trazidas pela Comuna de Paris.

Segundo Kristin:

Ser reconhecido como artista ou como alguém que efetivamente "assina" sua criação é o que o sapateiro Napoleão Gaillard, que dirigia a construção das barricadas sob a Comuna, parecia ter em mente quando teve sua fotografia tirada à frente da barricada que desenhou na Place de la Concorde, apropriando-se do estatuto de autor ou artista.

 Antes da Comuna, diz ela:

O mundo estava dividido entre aqueles que podiam e aqueles que não podiam se dar ao luxo de brincar com palavras ou imagens. Superada esta divisão, como demonstra a expressão “luxo comunal”, o que conta mais do que todas as imagens expressas, as leis promulgadas ou as instituições estabelecidas, são as capacidades postas em prática, em movimento.

Era essa concepção que estava por trás da criação da Federação de Artistas de Paris. Sua proposta era subverter a relação hierárquica entre arte e indústria. Seu programa, a arte livre de toda tutela governamental e de privilégios ligados ao status social.

A Federação defendia uma união onde a dignidade de cada artista é protegida pela dignidade de todos os outros. Artistas "proletarizados" ao lado de artesãos orgulhosos de suas técnicas centenárias. Todos se tornando os novos trabalhadores das ocupações envolvendo o fazer artístico.

Se isso não é um luxo, nada mais é!

Leia também: Aprendendo com as escolas da Comuna

6 comentários:

  1. Que bom que você compartilha esses registros com a gente! Tão importantes para construção de uma perspectiva que não subjuga os trabalhadores e os hierarquiza - como estamos vendo reiteradamente nesses tempos.

    ResponderExcluir
  2. Que bacana, não. A Comuna de Paris dá uma vontade da gente pegar aquele carro do filme "De volta para o futuro" e ir lá para ver com olhos vivos como foi esse momento de luta, criatividade e riqueza. Será que a humanidade vai ver isso de novo? E de preferência para um novo futuro? Boa essa sequência de Pílulas da Comuna.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, maravilhoso. Mas acho que os primeiros anos da Revolução Russa teve muita coisa rica assim. E como a Comuna foi logo massacrada. Por fora e por dentro.

      Excluir