Continuamos a falar do “luxo comunal”, expressão destacada por Kristin Ross em seu livro sobre a Comuna de Paris. O conceito surgiu no manifesto da Federação dos Artistas de Paris, de abril de 1871.
A ideia era que a beleza desabrochasse nos espaços públicos e não apenas em lugares privados e vigiados. Que a arte se integrasse plenamente à vida cotidiana, ao invés de permanecer escondida em palacetes.
A arte precisava ser vivida - não supérflua ou fútil, mas vital e indispensável para a comunidade. Criada ao nível dos municípios autônomos, contra a organização centralizadora do espaço monumental. Mas jamais restrita aos limites locais. O manifesto falava em partir do luxo municipal rumo à República Universal.
Se nos livrássemos dos enormes custos do desperdício que financia o sistema de classes atual, argumentavam os comunardos, acabaríamos com a superprodução de pobreza e também com todas as dicotomias entre o prático e o belo, o utilitário e o poético, entre o que descartar e o que conservar. O luxo insano da sociedade atual não pode existir sem alguma forma de escravidão. Por isso, deve ser substituído pela igualdade em abundância.
Encontrar critérios de riqueza diferentes dos que impulsionam a corrida quantitativa por crescimento e superprodução era uma forma de imaginar e realizar a transformação social. Uma concepção que desmentia as imagens de pobreza da vida parisiense sob a Comuna, propagadas por seus inimigos.
O "luxo comunitário" negava a ideia da pobreza compartilhada. Oferecia um mundo absolutamente diferente: um mundo onde todos tivessem sua parte do melhor.
Ou como diria um famoso carnavalesco, “quem gosta de miséria é intelectual”.
Leia também: Paris nunca foi tão luxuosa como durante a Comuna
Muito bom
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