Doses maiores

12 de maio de 2021

Elisabeth Demetrioff desafia as certezas de Marx

Na última pílula, falávamos sobre o romance “O que fazer?”, escrito pelo socialista russo Nikolaï Tchernyshevski.

Segundo Kristin Ross, em seu livro “Luxo Comunal: o imaginário político da Comuna de Paris”, o romance relata como a jovem Vera Pavlovna busca transformar a sociedade por meio do trabalho cooperativo. Por exemplo, ao ajudar costureiras a fundar uma cooperativa não só de produção, mas também de consumo, demonstrando que a ação solidária entre trabalhadores pode englobar todos os aspectos do cotidiano.

“O que fazer?” espalhou-se pela Rússia como um rastilho de pólvora. Sua mensagem, diz Kristin, afirmava que são as ações que dão origem aos sonhos, e não o contrário. E foi a leitura desse livro que levou a jovem Elisabeth Demetrioff a participar do movimento populista russo, do qual Tchernyshevski era um dos líderes.

Simpáticos às ideias marxistas, os populistas russos acreditavam que a teoria de Marx não era incompatível com a gestão coletiva das comunas camponesas russas. Com isso em mente, em 1869, Elisabeth foi a Genebra para conversar com Marx e entregar-lhe alguns escritos de Tchernyshevski.

Para Marx, o encontro com Elisabeth teve efeitos consideráveis, pois o levou a começar a pensar na possibilidade de uma pluralidade de caminhos para o socialismo. Uma inflexão teórica que se completará alguns anos depois, em sua correspondência com outra jovem militante russa, Vera Zasulich.

Mas Elisabeth não tinha preocupações apenas teóricas. Durante a Comuna, criou a União das Mulheres em Defesa de Paris e Socorro aos Feridos. Uma iniciativa que tentava colocar em prática a convergência teórica entre Marx e Tchernyshevski.

Falaremos dessa rica experiência na próxima pílula.

Leia também: Elisabeth Demetrioff, guerreira da Comuna

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