Quando foi fundado, o Partido Comunista Chinês (PCC) tinha em seu interior algumas importantes divergências estratégicas. A maior delas, opunha setores que defendiam a revolução a partir das cidades aos que entendiam que ela deveria começar pelo campo.
Entre estes últimos, estava Mao Tsé-Tung, que justificava suas posições com base na enorme superioridade numérica do campesinato frente ao operariado. O problema é que havia uma situação demográfica semelhante na Rússia e, nem por isso, os camponeses foram a vanguarda da Revolução de Outubro.
Mas outros fatores entraram em jogo, ajudando a consolidar a posição de Mao. Entre eles, o caráter fortemente militar e territorial que o processo revolucionário passou a ter com a invasão japonesa de 1937.
O PCC formou seu próprio exército para se defender da burguesia chinesa. Passou a usar esse exército para combater os japoneses e distribuir terra aos camponeses. A luta nas cidades tornara-se secundária.
Como diz Nigel Harris, em seu livro “O mandato do Céu”, foi assim que a revolução liderada por Mao se tornou uma luta por libertação nacional. Com isso, a autoemancipação dos explorados sumiu do horizonte do PCC.
Não que isso diminua a grande façanha realizada pelos comunistas chineses. Apenas mostra que seu projeto nunca foi essencialmente socialista.
Ser nacionalista pressupõe colocar o desenvolvimento econômico acima da socialização dos meios de produção. Transformar cooperativas em monopólios. Defender o fortalecimento do estado, não sua gradual dissolução. Promover o nacionalismo econômico, não o internacionalismo proletário.
A China é o que é hoje por causa dessa trajetória. E o que ela é hoje nada tem a ver com socialismo.
Continua...
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O resultado das luta das centenas de frentes de libertação Nacional em todo o terceiro mundo foram responsáveis pelo crescimento exponencial na expectativa de vida da humanidade pela primeira vez na historia. Representou a democratização da saude, educação e alimentação. Até então o crescimento era só linear. Eu acredito então que se a luta nacionalista e não a socialista foi responsável por isso, então os socialistas sinceros devem defender a luta nacional, ou não Será o socialistas.
ResponderExcluirHugo Ruas
Prezado Hugo, a rigor o texto da pílula não condena o caráter nacionalista da revolução chinesa. Apenas quer destacar que ela jamais teve pretensões realmente socialistas. É inegável que o povo chinês foi muito beneficiado pela revolução liderado por Mao. Lutas nacionalistas podem ser progressistas, lógico. O problema é que dificilmente são anticapitalistas e no caso da China é isso o que se confirma. A desigualdade social diminuiu muito nas primeiras décadas da revolução, mas hoje é uma das maiores do mundo. E isso é produto da consolidação de relações capitalistas na sociedade chinesa. Não só da manutenção da propriedade privada, mas da extrema monopolização do capital. E nada indica que a China escape das contradições inevitáveis de toda sociedade capitalista. Mais injustiça social, crises periódicas, desperdício de recursos, impactos ambientais inadministráveis etc.
ExcluirSou crítico à China, assim como sou crítico a qualquer formação social que mantenha e reproduza a lógica capitalista. Mas nesse caso o agravante é que a China vem se tornando um pilar da sustentação de uma ordem social desastrosa para a grande maioria da humanidade. Por isso, devemos ser muito rigorosos quando analisamos sua história e situação atual.
Obrigado por seu comentário. Vamos debatendo.
Caro Sergio, em primeiro lugar parabéns pela série sobre a China - e também pelas pílulas diárias. Sobre o papel da China no cenário do capitalismo contemporâneo eu discordaria que o projeto original tenha algum vínculo com os planos atuais do PCC, muitas mudanças ocorreram desde então. Concordo que não tenha nascido como projeto socialista assim como a maioria das frentes de libertação nacional que nascem da revolta popular diante da opressão, nem todos evoluem para um programa socialista. Acredito que até a época havia uma esperança que o economia socialista pudesse dar conta da demanda interna, algo como o que Preobrajensky falava (acumulação socialista), mas não houve evolução. Sobre a desigualdade social trata-se do resultado do surgimento dos ricos sim, mas não do aparecimento de mais pobres (ao menos dentro da China), pelo contrário. É claro que a China deu passos para trás para tomar fôlego, e mas não se sabe se haverá passos para frente.
ResponderExcluirO PCC vê vantagens na adoção de uma economia capitalista sobre controle, para expandir infinitamente para trazer benefícios exatamente como os países centrais fazem... A questão é saber se o PCC faz isso para "subsidiar" o bem-estar social para a base que o mantem, ou para entregar um revolução burguesa de bandeja para as elites.
O maior problema que vejo é que as pretensões de qualquer organização política de resolver as inconsistências capitalistas estão fadadas ao fracasso. Para resumir, invoco a velha máxima do melhor marxismo: ou socialismo ou barbárie. A barbárie já está às portas. Seria possível dizer que a solução chinesa pode ser uma forma de evitar a barbárie, mas não acredito que isso seja possível mantendo e fortalecendo as relações capitalistas. Precisamos para o capitalismo, agora.
ExcluirObrigado pelo apoio
Abraço
Corrigindo: ...precisamos parar o capitalismo agora.
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