Doses maiores

8 de julho de 2021

O projeto do PC chinês nunca foi essencialmente socialista

Quando foi fundado, o Partido Comunista Chinês (PCC) tinha em seu interior algumas importantes divergências estratégicas. A maior delas, opunha setores que defendiam a revolução a partir das cidades aos que entendiam que ela deveria começar pelo campo.

Entre estes últimos, estava Mao Tsé-Tung, que justificava suas posições com base na enorme superioridade numérica do campesinato frente ao operariado. O problema é que havia uma situação demográfica semelhante na Rússia e, nem por isso, os camponeses foram a vanguarda da Revolução de Outubro.

Mas outros fatores entraram em jogo, ajudando a consolidar a posição de Mao. Entre eles, o caráter fortemente militar e territorial que o processo revolucionário passou a ter com a invasão japonesa de 1937.

O PCC formou seu próprio exército para se defender da burguesia chinesa. Passou a usar esse exército para combater os japoneses e distribuir terra aos camponeses. A luta nas cidades tornara-se secundária.

Como diz Nigel Harris, em seu livro “O mandato do Céu”, foi assim que a revolução liderada por Mao se tornou uma luta por libertação nacional. Com isso, a autoemancipação dos explorados sumiu do horizonte do PCC.

Não que isso diminua a grande façanha realizada pelos comunistas chineses. Apenas mostra que seu projeto nunca foi essencialmente socialista.

Ser nacionalista pressupõe colocar o desenvolvimento econômico acima da socialização dos meios de produção. Transformar cooperativas em monopólios. Defender o fortalecimento do estado, não sua gradual dissolução. Promover o nacionalismo econômico, não o internacionalismo proletário.

A China é o que é hoje por causa dessa trajetória. E o que ela é hoje nada tem a ver com socialismo.

Continua...

Leia também: O PC chinês rumo ao poder, cada vez menos comunista

5 comentários:

  1. O resultado das luta das centenas de frentes de libertação Nacional em todo o terceiro mundo foram responsáveis pelo crescimento exponencial na expectativa de vida da humanidade pela primeira vez na historia. Representou a democratização da saude, educação e alimentação. Até então o crescimento era só linear. Eu acredito então que se a luta nacionalista e não a socialista foi responsável por isso, então os socialistas sinceros devem defender a luta nacional, ou não Será o socialistas.
    Hugo Ruas

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    1. Prezado Hugo, a rigor o texto da pílula não condena o caráter nacionalista da revolução chinesa. Apenas quer destacar que ela jamais teve pretensões realmente socialistas. É inegável que o povo chinês foi muito beneficiado pela revolução liderado por Mao. Lutas nacionalistas podem ser progressistas, lógico. O problema é que dificilmente são anticapitalistas e no caso da China é isso o que se confirma. A desigualdade social diminuiu muito nas primeiras décadas da revolução, mas hoje é uma das maiores do mundo. E isso é produto da consolidação de relações capitalistas na sociedade chinesa. Não só da manutenção da propriedade privada, mas da extrema monopolização do capital. E nada indica que a China escape das contradições inevitáveis de toda sociedade capitalista. Mais injustiça social, crises periódicas, desperdício de recursos, impactos ambientais inadministráveis etc.

      Sou crítico à China, assim como sou crítico a qualquer formação social que mantenha e reproduza a lógica capitalista. Mas nesse caso o agravante é que a China vem se tornando um pilar da sustentação de uma ordem social desastrosa para a grande maioria da humanidade. Por isso, devemos ser muito rigorosos quando analisamos sua história e situação atual.

      Obrigado por seu comentário. Vamos debatendo.

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  2. Caro Sergio, em primeiro lugar parabéns pela série sobre a China - e também pelas pílulas diárias. Sobre o papel da China no cenário do capitalismo contemporâneo eu discordaria que o projeto original tenha algum vínculo com os planos atuais do PCC, muitas mudanças ocorreram desde então. Concordo que não tenha nascido como projeto socialista assim como a maioria das frentes de libertação nacional que nascem da revolta popular diante da opressão, nem todos evoluem para um programa socialista. Acredito que até a época havia uma esperança que o economia socialista pudesse dar conta da demanda interna, algo como o que Preobrajensky falava (acumulação socialista), mas não houve evolução. Sobre a desigualdade social trata-se do resultado do surgimento dos ricos sim, mas não do aparecimento de mais pobres (ao menos dentro da China), pelo contrário. É claro que a China deu passos para trás para tomar fôlego, e mas não se sabe se haverá passos para frente.

    O PCC vê vantagens na adoção de uma economia capitalista sobre controle, para expandir infinitamente para trazer benefícios exatamente como os países centrais fazem... A questão é saber se o PCC faz isso para "subsidiar" o bem-estar social para a base que o mantem, ou para entregar um revolução burguesa de bandeja para as elites.

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    1. O maior problema que vejo é que as pretensões de qualquer organização política de resolver as inconsistências capitalistas estão fadadas ao fracasso. Para resumir, invoco a velha máxima do melhor marxismo: ou socialismo ou barbárie. A barbárie já está às portas. Seria possível dizer que a solução chinesa pode ser uma forma de evitar a barbárie, mas não acredito que isso seja possível mantendo e fortalecendo as relações capitalistas. Precisamos para o capitalismo, agora.

      Obrigado pelo apoio

      Abraço

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  3. Corrigindo: ...precisamos parar o capitalismo agora.

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