Doses maiores

5 de julho de 2021

O comunismo chinês e sua lógica útil ao capital

O Partido Comunista Chinês está completando 100 anos. Seria bom lembrar alguns fatos históricos sobre a organização e a grande revolução que liderou, sob comando de Mao Tsé-Tung.

Em 1949, os comunistas tomaram o poder na China e iniciaram mudanças radicais na estrutura produtiva. Segundo Nigel Harris, em seu livro “O Mandato do Céu”:

A participação privada na produção industrial caiu de 39% em 1952 para 16% em 1955. No final do mesmo ano, 82% da produção privada foram comprados pelo Estado. Em 1956, toda a indústria privada havia sido absorvida por empresas mistas.

Mas, continua Harris:

O regime manteve-se favorável aos empresários privados. Pagou indenizações com juros sobre o capital privado expropriado e empregou os ex-empresários privados com salários relativamente altos como gerentes das novas empresas mistas ou estatais.

Além disso, foi assim que Mao se dirigiu aos principais empresários chineses no final de 1956:

Não podemos dizer que a burguesia é inútil para nós. É útil, muito útil. Os trabalhadores não entendem isso porque, no passado, se envolveram em conflitos com os capitalistas nas fábricas. Devemos, portanto, explicar a situação aos trabalhadores. Se eles tomarem conhecimento do forte desejo de aprender que vocês demonstram em seus círculos industriais e comerciais, certamente mudarão de atitude...

O livro de Harris foi lançado em 1978. Na época, ninguém imaginava que a China se tornaria um pilar de sustentação da ordem capitalista mundial. Mas se houve mudanças importantes, ela não foram radicais. O pragmatismo conciliador frente à lógica capitalista continua o mesmo dos tempos maoístas.

Nas próximas pílulas, mais sobre esse processo com ajuda da obra de Harris.

Leia também: Na China, socialismo verdadeiro, só de baixo para cima

2 comentários:

  1. Um dos temas bem difíceis a China. Aqui se fala em pagamento não em expropriação. O trecho sobre Mao, entendo como colocar os antigos proprietários como trabalhadores, sobre um novo sistema, aproveitando seu conhecimento, e este podendo ser absorvido pelos demais trabalhadores, não me parece incorreto.

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    1. Essa parte do "saber sendo absorvido pelos trabalhadores" é uma suposição sua que não ocorreu. Mas espero que nas próximas pílulas as coisas fiquem mais claras.

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