“Classe e consciência de classe são sempre o último e não o primeiro degrau de um processo histórico real”. Esta frase está no livro “A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo”, de Marcelo Badaró.
Mas a citação pertence ao livro “A formação da classe operária inglesa”, de E. P. Thompson. Publicada em 1963, a obra mostrou-se valiosa ao afirmar algo que para Marx e Engels era óbvio, mas parecia esquecido. A consciência de classe não pode surgir se não das experiências concretas do proletariado.
Em um famoso trecho, Thompson diz:
A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem (e geralmente se opõem) dos seus. A experiência de classe é determinada, em grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram – ou entraram involuntariamente. A consciência de classe é a forma como essas experiências são tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições, sistemas de valores, ideias e formas institucionais. Se a experiência aparece como determinada, o mesmo não ocorre com a consciência de classe.
Mas um grande problema da antológica obra do historiador inglês é seu descuido em relação ao colonialismo. A experiência operária descrita por ele limita-se às experiências do proletariado inglês.
Para fazer o contraponto, Badaró cita, entre outras obras, “A hidra de muitas cabeças”, de Peter Linebaugh e Marcus Rediker. Lançado originalmente em 2000, o livro mostra que o proletariado tem muitas cores, origens, culturas. Será tema da próxima pílula.
Leia também: A classe trabalhadora e suas múltiplas determinações
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