Para encerrar os comentários sobre o filme “Não olhe para cima”, seria bom lembrar o que disse Fredric Jameson em seu livro “Arqueologias do futuro”, de 2009. Segundo o filósofo estadunidense, as pessoas conseguem imaginar o fim do mundo, mas jamais o fim do capitalismo. O sucesso dos filmes-catástrofe seria uma confirmação disso.
A diferença de “Não olhe para cima” para os outros filmes do gênero é que nele a grande maioria se recusa a acreditar na iminência do desastre, apesar de todas as evidências científicas. É também a ideia de que tudo o que diz respeito ao que é real está sob intensa disputa, menos a realidade da tragédia capitalista.
Outro autor a destacar a incapacidade generalizada de imaginar o fim do capitalismo foi Mark Fisher em seu livro “Realismo Capitalista: não há alternativa?”. O realismo capitalista, diz o filósofo britânico, seria uma espécie de barreira que impede pensar em alternativas ao atual modo de vida.
Ou seja, como demonstra o personagem do filme, Pete Isherwell, não há motivos para pânico. Um planeta prestes a ser destruído pode ser abandonado a qualquer momento a bordo de uma nave espacial. O fato de que somente uma pequena minoria se salvaria é só uma extrapolação das condições imensamente mais vantajosas de que as classes dominantes dispõem para escapar das catástrofes que já ocorrem todos os dias pelo mundo e que, mesmo sendo menos espetaculosas, seguem fazendo vítimas aos milhões entre os mais pobres.
Tudo se resume a saber se permitiremos que o capitalismo morra de morte morrida ou de morte matada. No primeiro caso, trata-se de suicídio.
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Bem real e óbvio, mas, realmente, a gente acha possível o final do mundo, mas não o do capitalismo. Acho que estão faltando filmes para que as pessoas imaginem o fim do capitalismo. Ironia, claro, mas o capitalismo prefere mesmo proporcionar o fim do mundo, real e imaginário, porque assim ninguém pensa no fim do capitalismo.
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