Suspensão de privatizações, aumento do salário mínimo, eletricidade gratuita
para 300 mil famílias pobres. Estas são algumas das primeiras medidas do governo
do Syriza que estão sendo comemoradas pela esquerda em geral.
Ao mesmo tempo foi anunciada uma aliança com o partido de direita, Gregos
Independentes, para obter maioria no parlamento. Também são preocupantes as
declarações de Alexis Tsipras sobre a renegociação da enorme dívida pública do
país sem citar a realização de uma auditoria.
Um artigo importante para entender o que está em jogo é “Syriza enfrenta
decisões difíceis”, publicado no portal “Rebellion” pouco antes da vitória.
Escrito por Dimitris Belladis, membro do partido, o texto cita algumas das
medidas já adotadas.
Mas Belladis também considera prioritário restabelecer o “direito de
manifestação” e retirar dos espaços públicos as “forças especiais da polícia”. Algo
vital para um governo eleito graças a uma onda radical de lutas. Sem isso, as
negociações tendem a ficar nos parlamentos corrompidos e as decisões do governo
podem perder o necessário caráter anticapitalista da saída grega para a crise.
Por outro lado, restrições antidemocráticas semelhantes foram adotadas em
várias partes do mundo. No Brasil, desde as manifestações de junho de 2013. A
prisão ilegal e ilegítima de 23 manifestantes no Rio de Janeiro é só uma
evidência disso.
O grave é que, aqui, os levantes populares surgiram antes da adoção da “austeridade
neoliberal” por Dilma Roussef. Como reagirão os trabalhadores quando surgirem as
consequências dessa opção desastrosa? Se vierem novas revoltas, a
responsabilidade pela repressão será do governo petista. A nossa é aprender com o Syriza como se aprende com quem luta.
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Daqui a pouco a esquerda começa uma briga fratricida dos que apoiam o governo contra os que, por ideologia, repudiam qualquer governo.
ResponderExcluirAs esquerdas mais ideológicas extremadas não costumam ter sensibilidade para saber a melhor postura em cada situação. As ideologias puras deviam ser usadas como um horizonte a se buscar a longo prazo, e mesmo assim passíveis de serem reavaliados. Se aproximar mais da democracia direta é desejável, mas condenar completamente a democracia indireta, independente do momento histórico, é um erro recorrente em parte da esquerda. Assim como é um erro seguir somente o rumo da institucionalidade, sem fortalecer a ação direta, que outra parte da esquerda costuma cometer.
Talvez a Syriza seja como foi o PT, uma farsa. Talvez não, ou talvez um intermediário. O fato é que independente do que seja, para se sonhar com mudanças tem que haver sensibilidade de se atuar em todas as frentes de luta. Se o governo da Syriza se consolidar como instrumento de ruptura tem grande chance de ser o agente iniciador da grande crise financeira, continuação da crise de 2008, que conseguiram postergar. De lá para cá houve várias ameaças de retornar com força, iniciando na própria Grécia, Chipre ou Portugal. Que ela virá é certo, e quanto mais demorar mais forte será. A causa que está por trás é o capitalismo especulativo e sua bolhas financeiras, que traz a ilusão de haver muito mais riqueza do que a riqueza real existente. De tempos em tempos a verdade vem a tona, começando a uma corrida aos bancos, e depois grande recessão. A mídia dominante pode querer desgastar a imagem do novo governo como se ele fosse o responsável pela crise. Cabe as esquerdas se prepararem para o embate, pois ele será pesado. Espero que as esquerdas sejam mais sábias desta vez e não repitam os erros do passado.