“O Abutre”, de Dan Gilroy, é um bom filme e uma ácida crítica à mídia
empresarial e ao empreendedorismo neoliberal.
Jake Gyllenhaal é Louis Bloom, que inicia o filme furtando fios de cobre para
vender. Um acidente lhe mostra um caminho mais rentável, legalizado, mas tão imoral
quanto roubar.
Trata-se de filmar e vender para a TV cenas de desastres, crimes, perseguições
policiais. Bem no estilo de programas como “Cidade Alerta” e “Brasil Urgente”.
Quanto mais vítimas, destruição e desrespeito, mais audiência baseada em
emoções fáceis e preconceitos baixos.
Bloom tem o sangue frio de um lagarto. É perfeito para a tarefa de gravar
imagens de moribundos. Invade cenas de crime e pode ajeitá-las para um melhor
ângulo, sem cerimônia.
O rastejante repórter encontra na produtora de TV Nina Romina (Rene Russo) uma
ávida consumidora de seu trabalho de rapina. Ela precisa sustentar altos níveis
de audiência. Ele traz a carniça que ela rumina e regurgita.
Bloom doutrinou-se sozinho, assistindo cursos e aulas de autoajuda e lendo textos sobre corporativismo
empresarial, tudo pela internete. Com os olhos vidrados, o personagem de Gyllenhaal
recita lugares-comuns em voz automática, concluídos com um assustador sorriso
mecânico.
A maior vítima de suas palestras é seu infeliz auxiliar, Rick (Riz Ahmed). Mas,
em algumas semanas, o rapaz vai de auxiliar a vice-presidente da organização
criada por Bloom. Uma façanha bastante diminuída pelo fato de que ele e o chefe
são os únicos funcionários da empresa.
O final é bastante coerente com a realidade da mídia especializada na infelicidade
alheia. Há sempre lugar para quem se destaca na meritocracia dos urubus.
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sai. Preto fica! E vice-versa...
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