Doses maiores

28 de janeiro de 2015

Na Grécia, nem Lula nem Chávez

O “Financial Times” pergunta: o novo líder grego seria um Lula ou um Chávez? O jornal britânico refere-se a Alexis Tsipras, principal nome do Syriza, partido que venceu as recentes eleições gregas.

Segundo a publicação, o líder venezuelano representaria o radicalismo e o brasileiro, a moderação. A comparação não tem sentido. Por mais influentes e brilhantes que sejam alguns indivíduos, suas ações são resultado de complexos processos sociais e históricos. Do movimento de forças contraditórias e coletivas.

Eleito em 1999, Chávez era, realmente, muito mal visto pela elite venezuelana e pelo imperialismo estadunidense. Mas sua guinada à esquerda foi causada principalmente pela tentativa de derrubá-lo, em 2002. O jogo sujo da direita, de um lado, e a reação popular que derrotou o golpe, de outro, empurraram o líder venezuelano à confrontação aberta com o imperialismo.

A vitória de Lula, em 2002, não inaugurou uma nova era de avanços das lutas dos trabalhadores. Ao contrário, marcou o esgotamento do neoliberalismo combinado a uma década de derrotas políticas e organizativas dos explorados e oprimidos. Representou uma adaptação rebaixada a este processo.

Diferente de tudo isso, a ascensão de Tsipras é produto de anos de heroica resistência dos trabalhadores gregos. Dezenas de greves gerais e centenas de manifestações. Muitas batalhas violentas travadas nas ruas contra a polícia. Ou seja, os processos sociais por trás da vitória do Syriza têm um caráter extremamente radicalizado.

Nada disso garante que o governo do Syriza atenderá as expectativas dos milhões de lutadores que o elegeram. Significa apenas que ainda estão por vir muitos
conflitos cujos desfechos, sejam vitórias ou frustrações, serão igualmente radicais.

Leia também: As serpentes no berço do Syriza

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