Doses maiores

25 de janeiro de 2015

Carta ao século 19: chega de banho todo dia

Prezados patrícios do século 19, não sei por que raios vim parar no século 21. Mas se me calhou de cá estar o melhor a fazer é aceitar o fado que me coube. 

Há muito progresso nestes tempos, como alguns de nós já prevíamos. As pessoas se deslocam muito rapidamente, por exemplo, fazendo uso de carros velozes. O problema é que há tantos desses veículos que se atrapalham uns aos outros e sua velocidade muitas vezes cai ao ritmo da mais simplória caminhada.

Os meios de comunicação também são espantosos. É possível falar com gente do outro lado do mundo instantaneamente. Só não alcanço compreender porque as pessoas se entregam a tais prosas remotas com muito mais constância e facilidade do que conversam com quem está a seu lado.

Mas o mais estranho dos costumes é o de tomar banhos com grande frequência. Diferente de nosso tempo em que esse tipo de higiene se fazia apenas a cada três ou quatro meses, a gente daqui mete-se sob jorros d’água uma ou duas vezes por dia!

Trata-se de algo impensável em nossa época, dada a escassez de água em nossas cidades. Mas parece que desde o século 20 grandes redes de encanamentos passaram a permitir a chegada de água a quase todas as casas.

No início, confesso que senti muita dificuldade em assimilar tal hábito. Mas, de repente, tudo começou a se arranjar. Parece que a água está se tornando novamente rara. De modo que, talvez, eu até possa ensinar aos que habitam estes tempos loucos como permanecer muitos meses sem molhar o próprio corpo.

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3 comentários:

  1. Ora pois, gostei da prosa e da informação. Era isso mesmo?

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  2. Era, sim. E vai voltar a ser, talvez. Vou fazer outro texto pra complementar este e dar mais detalhes.
    Valeu!

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  3. Muito bom, Sérgio ! Gosto de ler seus textos, sempre muito informativos e satíricos.

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