Prezados patrícios do século 19, não sei por que raios vim parar no século 21.
Mas se me calhou de cá estar o melhor a fazer é aceitar o fado que me
coube.
Há muito progresso nestes tempos, como alguns de nós já prevíamos. As pessoas
se deslocam muito rapidamente, por exemplo, fazendo uso de carros velozes. O problema
é que há tantos desses veículos que se atrapalham uns aos outros e sua
velocidade muitas vezes cai ao ritmo da mais simplória caminhada.
Os meios de comunicação também são espantosos. É possível falar com gente do
outro lado do mundo instantaneamente. Só não alcanço compreender porque as
pessoas se entregam a tais prosas remotas com muito mais constância e
facilidade do que conversam com quem está a seu lado.
Mas o mais estranho dos costumes é o de tomar banhos com grande frequência.
Diferente de nosso tempo em que esse tipo de higiene se fazia apenas a cada
três ou quatro meses, a gente daqui mete-se sob jorros d’água uma ou duas vezes
por dia!
Trata-se de algo impensável em nossa época, dada a escassez de água em nossas
cidades. Mas parece que desde o século 20 grandes redes de encanamentos passaram
a permitir a chegada de água a quase todas as casas.
No início, confesso que senti muita dificuldade em assimilar tal hábito. Mas, de
repente, tudo começou a se arranjar. Parece que a água está se tornando novamente
rara. De modo que, talvez, eu até possa ensinar aos que habitam estes tempos loucos
como permanecer muitos meses sem molhar o próprio corpo.
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Ora pois, gostei da prosa e da informação. Era isso mesmo?
ResponderExcluirEra, sim. E vai voltar a ser, talvez. Vou fazer outro texto pra complementar este e dar mais detalhes.
ResponderExcluirValeu!
Muito bom, Sérgio ! Gosto de ler seus textos, sempre muito informativos e satíricos.
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