Doses maiores

20 de maio de 2016

O Homo Velociraptor

Para Christian Laval e Pierre Dardot, autores do livro "A Nova Razão do Mundo: Ensaios sobre a Sociedade Neoliberal", o neoliberalismo generalizou “o homem da competição e do desempenho” como modelo social a ser perseguido.

Nosso ideal como seres humanos seria o equivalente ao velociraptor, dinossauro tornado famoso pelo filme “Jurassic Park”. Relativamente pequeno, sua capacidade de matar ultrapassava de longe a dos enormes tiranossauros. Uma verdadeira máquina de devorar carne.

Mas a extrema especialização costuma ser mais uma fraqueza que uma vantagem na natureza. A dependência em relação a algumas poucas habilidades, mesmo que perfeitas, pode ser um atalho para a extinção. Bastam algumas alterações no ambiente para que a sobrevivência se torne impossível.

Somos o contrário do velociraptor. Com tantas vulnerabilidades físicas, podemos ser mortos por quase todas as formas de vida, de microscópicas bactérias a grandes feras. Mesmo assim, fomos capazes de nos espalhar pelo planeta de um modo que é impossível a qualquer outra espécie.

Descendemos dos insignificantes, mas espertos mamíferos, que viram os enormes répteis perecerem. Por milhões de anos, aprendemos a compensar nossas fragilidades físicas com uma diversidade cultural e produtiva capaz de enfrentar as mais radicais mudanças no ambiente.

Agora, no que acreditamos ser nosso auge evolutivo, pretendem que troquemos as variadas cores que nossa espécie criou pelos poucos tons cinzentos da competição insana imposta pelo mercado.

No intervalo de alguns séculos, o capitalismo resolveu que seremos tão limitados como predadores ultraespecializados, perseguindo presas que pertencem a nossa própria espécie.

Mas, admitamos, muitos de nossos líderes estão perfeitamente adaptados para esse papel. Velociraptor quer dizer “ladrão rápido”.


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