“Farinha com Açúcar ou Sobre a Sustança de
Meninos e Homens” é “uma investigação acerca da construção da masculinidade
negra periférica”. A definição é de Jé Oliveira, ao apresentar a peça teatral que
protagoniza à frente dos músicos Cássio Martins, DJ Wojtila, Fernando Alabê,
Mauá Martins e Melvin Santhana.
O projeto do Coletivo Negro nasceu a partir de entrevistas feitas com 12 homens negros de diversas idades e ocupações. Nos depoimentos, além da origem pobre, o elemento mais comum é a morte.
O projeto do Coletivo Negro nasceu a partir de entrevistas feitas com 12 homens negros de diversas idades e ocupações. Nos depoimentos, além da origem pobre, o elemento mais comum é a morte.
É ela, em sua versão “matada” ou “morrida”, pela bala, pela faca, pelo álcool ou outras doenças, que cerca a masculinidade negra periférica. É ela, diz o personagem principal, que torna “impossíveis as metáforas” e faz as coisas serem o que são, nuas e cruas.
Mas a maior inspiração artística da obra são os Racionais MC’s. E o coletivo de hip-hop paulistano sabe como poucos transformar a justa revolta da juventude negra da periferia em poesia, ainda que dura e cortante. É a afirmação de que mesmo as piores situações de violência geram suas metáforas. Inclusive, com lirismo.
Mas se é pela morte que o espetáculo começa, a música vai tomando conta. As rimas ásperas e verdadeiras do rap passam pelo samba e se despedem com o soul dançante dos Jackson Five. É a arte cumprindo sua grande vocação de veículo para a emancipação.
Ainda assim, a realidade volta a bater na cara quando ficamos sabendo que os alvos de treinamento para tiro utilizados na cenografia foram obtidos junto à Polícia Militar. Neles estão desenhados perfis de homens negros. Mas podem ser meninos...
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