Doses maiores

12 de agosto de 2016

Intolerância do tempo das cavernas

É possível que alguns seres humanos tenham um gene que favoreça um comportamento social tolerante e sem preconceitos. É o que revela a reportagem “O gene da tolerância”, publicada no Globo por Viviane Nogueira, em 11/08.

A matéria relata o trabalho da equipe do pesquisador brasileiro Alysson Muotri, da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia. Eles estudam a síndrome de Williams, que provoca alterações genéticas que tornam seus portadores “excessivamente sociáveis e livres de qualquer preconceito”.

Mas essa predisposição está longe de ser estranha a nossa espécie. O próprio Muotri ressalta que diferente de outros primatas, como o chimpanzé, o córtex cerebral dos humanos “evoluiu para aumentar o processamento social em quase três vezes”. Algo essencial para nos tornar colaborativos e capazes de criar “coisas muito superiores”, como “poesia, música e tecnologia”, diz ele.

O pesquisador, porém, não resiste à atual tendência de tentar condicionar nosso comportamento com remédios. Espera que ainda possamos superar nossos preconceitos “com fármacos e nos tornar mais tolerantes uns com os outros”. A indústria de medicamentos agradeceria, também.

Muotri acerta, porém, quando afirma que o preconceito foi muito útil para nossa espécie. Dezenas de milhares de anos atrás, o julgamento baseado apenas nas aparências era essencial para a sobrevivência. Ninguém ficava em dúvida sobre o que pensar das intenções de um leão ao encontrá-lo no meio do mato, por exemplo.

Mas, pensando bem, talvez haja indivíduos cujo comportamento preconceituoso realmente exija tratamento com drogas pesadas. O que não falta é gente achando que continuamos no tempo das cavernas. Principalmente, em redações de jornais, igrejas, parlamentos, governos e redes virtuais.

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3 comentários:

  1. Se medicamentos funcionarem é mais fácil que sejam usados para aumentar preconceito do que para diminuí-lo, afinal tanto o preconceito quanto a falta de escrúpulo de alguém para usar um medicamento assim, são características ligadas a gente com um mesmo tipo de pensamento .

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  2. É muito mais lucrativo usar remédios do que fazer um tratamento de auto ajuda na sociedade.

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