Dois
artigos publicados na Folha, em 04/12, pediam paciência e humildade diante das
recentes manifestações de rua em defesa da Lava-Jato.
Antônio
Prata dizia ser “impossível conversar com quem defende a ditadura, a tortura, a
homofobia. Mas ao lado desses, hoje, estarão seu primo, seu tio, seu sogro e
uma multidão de pessoas decentes...”. Se virarmos as costas a eles, afirma ele,
como evitar um “Bolsonaro em 2018”?.
Rodrigo
Nunes vai por caminho parecido:
A identidade de esquerda parece cobrar um preço cada vez
mais alto de entrada: os requisitos práticos e teóricos são cada vez mais
exigentes, e seu não cumprimento pode implicar não a tentativa de persuasão,
mas o fechamento de qualquer via de diálogo.
Os dois
articulistas estão falando sobre a penosa, mas necessária, convivência com um
senso comum impregnado de valores retrógados e revoltantes. Realmente, não é
fácil ouvir obscenidades como a defesa da tortura, da homofobia, do racismo...
O
sentido da palavra “obsceno” refere-se ao que deve ficar escondido, fora de
cena. De forma alguma, aceitamos tortura, homofobia, racismo. Mas combater tais
valores com ofensas é continuar no mesmo registro de obscenidades.
A
defesa da livre orientação sexual ou de tratamento digno para criminosos, por
exemplo, é obscena para a extrema-direita. Sem problema. Gostamos de escandalizá-la
com esta nossa obscenidade e nos orgulhamos dela. Mas se a abandonarmos para trazer
à cena principal nossa arrogância e hostilidade, aqueles que queremos convencer
só ouvirão os fascistas.
Como
diz Nunes em seu artigo, acolher os medos e anseios das pessoas pode ser um “ponto
de partida para uma obscenidade de esquerda”.
Leia
também: Senso comum, reformismo e revolução
Esta pílula tem tudo a ver com a esquerda que eu conheço. Se vc não fala de Marx, ou outra referência (dependendo do grupo onde vc está), é excluído, ignorado ou repudiado. Com esse comportamento o potencial de expansão da esquerda é muito limitado. No segundo turno na eleição no Rio de Janeiro esse limite foi muito bem visível.
ResponderExcluirEm grupos ideológicos, incluindo os extremados, o dominante costuma ser pessoas de boa intenção. Podem ser extremamente equivocadas, e produzir o mal extremo, mas a grande maioria não tem consciência disso. A esquerda simplesmente discriminar essas pessoas como 'lixo social', sem tentar entender o contexto que levou essas pessoas a construíram esse pensamento, fecha qualquer possibilidade delas reverem suas posições.
Na passeatas do impeachment da Dilma, tanto as a favor quanto as contra, a grande maioria é composta por gente de boa intenção, a grande maioria equivocada, embora em ambas houvessem gente de má intenção manipulando-as. Ficar simplesmente taxando essas pessoas como 'idiotas' ou 'bandidos' não constrói nada. Engraçado que quando se trata de recuperação de criminosos comuns a esquerda tenta entender o contexto que o levou a agir/pensar assim e luta para ressocializá-lo. Agora qq um que tenha pensamento de extrema direita, ou liberal, é classificado como 'lixo irrecuperável'.
Verdade, Marcelo.
ResponderExcluirAbraço