Em 1983, Arlie Hochschild
publicou “The Managed Heart: commercialization of human feelings” (“O coração
gerenciado: a comercialização dos sentimentos humanos”).
O livro estuda a situação das comissárias de voo, mostrando
como elas são obrigadas a administrar os próprios sentimentos no sentido de
exibir apenas aqueles que interessam à companhia aérea.
O maior símbolo desse
processo é o sorriso. Sua constante exibição passa a ser um “patrimônio”
atribuído à trabalhadora, mas apropriado por seus patrões.
Há também o
desempenho de um papel cujos polos são a atitude maternal e a erotização.
Aquela que deve atender aos desejos dos passageiros como provedora solícita ou
possível esposa ou amante.
Segundo esta lógica,
relações impessoais devem ser vistas como sendo pessoais. Relações baseadas em
troca monetária devem ser vistas como relações sem qualquer envolvimento
monetário.
Não é difícil imaginar
o estrago que um controle desse tipo pode causar às profissionais envolvidas.
De um lado, a entrega ao desempenho do papel exigido, que pode terminar em
esgotamentos nervosos. De outro, a sensação de manter uma atitude de constante
fingimento e falsidade que deteriora a autoestima.
De uma ponta à outra,
as trabalhadoras sofrem com a experiência de ver seus sentimentos expropriados
por seus empregadores. Passam a ver sua sensibilidade subordinada às regras da
produção em série.
Como essa lógica se impõe
em atividades envolvendo relações com pessoas e não com coisas, ela vem se ampliando
juntamente com a enorme expansão do setor de serviços verificada nas últimas
décadas. E as mulheres tendem a ser suas maiores vítimas.
É mais uma, talvez a mais
grave, dimensão desumanizadora do domínio do capital.
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