Para
eles, a fala é um gargalo porque exige que uma palavra siga a outra em
sequência. Com a escrita, por outro lado, cada marca em uma página pode ser
visível simultaneamente. Por que restringir a escrita com uma camisa de força
que exige que ela seja tão sequencial quanto a fala? Isso nunca lhes ocorreria.
O trecho acima se refere a personagens
alienígenas do conto “The story of your life”, de Ted Chiang, ainda sem tradução
do inglês. Com base nele, Denis Villeneuve fez o filme “A Chegada”, raro exemplo
de ficção científica que faz pensar.
A lógica por trás da linguagem desses
extraterrestres é determinada por sua experiência em relação ao tempo. Para
eles, a escrita se expressa e é aprendida simultaneamente porque passado, presente
e futuro também se manifestam de uma só vez.
Difícil entender? Com certeza. Mas não
faltam efeitos especiais, boas atuações e um roteiro cativante, ainda que acabe
amarrando algumas pontas à moda de Hollywood.
Mas outro aspecto muito interessante da produção
é que o centro da ação e do suspense são os mistérios da linguagem.
Em tempos de fortes ataques às ciências
humanas, o papel de uma linguista se revela mais importante que o de físicos,
matemáticos, programadores. Até a enorme prioridade contemporânea dispensada às
soluções militares é obrigada a dar lugar às sutilezas da comunicação simbólica.
É como se Chiang e Villeneuve nos lembrassem
do quão imprecisas são as ciências exatas e de como é grosseira a pontaria bélica.
E se isso vale até para a chegada de alienígenas, deveria ser obrigatório na recepção
a estrangeiros.
Leia também: Vida longa e próspera para a
humanidade
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