- Não gosto de
pretos, Kindzu.
- Como? Então gosta
de quem? Dos brancos?
- Também não.
- Já sei: gosta de
indianos, gosta da sua raça.
- Não. Eu gosto de
homens que não tem raça. É por isso que eu gosto de si, Kindzu.
O diálogo
acima é do livro “Terra Sonâmbula” e está na peça “Os cadernos de Kindzu”, baseada
na obra de Mia Couto. A montagem do Amok Teatro faz justiça ao belo texto do
escritor moçambicano. Mas também chama a atenção a espetacular “cenografia
musical” proporcionada por inúmeros instrumentos afro-orientais brilhantemente tocados
por todo o elenco.
A trama
gira em torno do jovem Kindzu, apanhado em meio à guerra civil que castigou Moçambique
após a libertação do país do domínio português. Mia Couto e o Amok mostram que a
libertação colonial foi só um primeiro passo para a verdadeira libertação dos
povos africanos.
É por
isso que Surendra, antes do diálogo acima, já havia dito a Kindzu que seria “preciso
esperar séculos para que cada homem fosse visto sem o peso de sua raça."
É contra
essa situação que a companhia teatral dirigida por Ana Teixeira e Stephane
Brodt vem atuando, com seu trabalho ligado às tradições africanas iniciado com outra
montagem maravilhosa. Trata-se de “Salina – A Última vértebra”, encenada em
2015.
O espetáculo
só fica em cartaz até 18/12 no CCBB do Rio de Janeiro. E, infelizmente, ainda não
há notícias de novas apresentações para o ano que vem.
Que possamos
continuar contando com a arte do Amok para alcançar um futuro livre do peso do racismo.
Só no Rio? Não vem à Gyn ou BSB?
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