Em
“Homo Deus”, Yuval Harari diz que as religiões teístas surgiram junto com a
agricultura. Nelas, os seres humanos alcançaram um patamar privilegiado em suas
relações com o plano divino. As outras espécies passaram a ser desprezadas.
Um
exemplo é o episódio bíblico da Arca de Noé. Antes de provocar o grande
dilúvio, Noé foi instruído a salvar as várias espécies para proteger os
interesses comuns de deuses e seres humanos, afirma Harari.
Baixadas
as águas, Noé construiu um altar onde sacrificou certos animais em louvor a
Deus. O autor cita a Bíblia: “O Senhor sentiu o aroma agradável e disse em seu
coração: Nunca mais vou amaldiçoar o chão por causa dos seres humanos”.
Ou
seja, a concepção bíblica considera perfeitamente correto matar animais como
punição por crimes cometidos pelo Homo sapiens. Outras religiões teístas, como
o budismo e o hinduísmo, também autorizam os seres humanos a controlar e usar
outros animais, ainda que com certas restrições.
Os
caçadores-coletores não se viam como seres superiores porque raramente tinham
consciência do seu impacto sobre o ecossistema. Mas os agricultores são muito
menos dependentes em relação aos caprichos de outros animais.
Antes da
Revolução Agrícola, afirma Harari, a humanidade falava com animais e plantas.
Depois dela, restou apenas o diálogo com os deuses.
Agora,
a humanidade estava sozinha num palco vazio, “conversando consigo mesma,
negociando com ninguém e adquirindo enormes poderes sem obrigações”. Pelo
menos, era o que pensávamos até que os desequilíbrios ecológicos começaram a
cobrar a fatura.
Esta
visão de Harari está longe de ser consensual, mas vale pelo que nos faz pensar.
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