Ainda assim, demonstrava
enorme coragem pessoal e compromisso com a democracia. Alvo do ódio da
extrema-direita, por duas vezes, pelo menos, quase foi linchado ao ser
reconhecido por hordas fascistas na rua.
Em maio de 1924, fez um duro
discurso contra o governo Mussolini diante de um parlamento acovardado. Despertou
a ira do “Duce”. Em junho, em plena luz do dia, capangas fascistas sequestram Matteotti.
Seu corpo seria encontrado dois meses depois. Havia sido morto a pauladas. Tinha
39 anos.
A comoção é grande. Até setores
fascistas desaprovam o ocorrido. A crise ameaça derrubar o governo. Tudo indica
que Mussolini foi o mandante. No entanto, como mostra o livro “M, O Filho do
Século”, de Antonio Scurati, um discurso do líder fascista diz tudo sobre a situação
da esquerda italiana naquele momento.
Nesse pronunciamento feito
durante o Grande Conselho do Fascismo, em 22 de julho de 1924, Mussolini diz:
Afinal,
o que as oposições estão fazendo? Eles fazem greves gerais ou parciais? Alguma
manifestação de rua? Ou tentativas de revolta armada? Nada disso. As oposições
conduzem uma controvérsia puramente jornalística. Eles não podem fazer mais
nada.
Infelizmente, Mussolini estava
certo. E ao sobreviver à crise, novamente fortalecido, consegue aprovar uma lei
eleitoral que viria garantir a seu partido ampla maioria parlamentar nas eleições
seguintes.
É leviano traçar
paralelos entre situações tão diferentes. Mas amanhã completam-se dois anos da morte
de Marielle Franco.
Sergio, estou lendo o livro "O jovem Marx e outros escritos de filosofia", uma coletânea de escritos de Lukács selecionados e traduzidos pelo Carlos Nelson Coutinho e José Paulo Netto. Abre esse livo o primeiro escrito "A concepção aristocrática e concepção democrática de mundo". Olha só o que o Lukács escreve no segundo parágrafo: "Essa situação pode ser resumida brevemente: o poderio militar do fascismo foi aniquilado na guerra. No entanto, o desenvolvimento posterior ao fim da guerra mostra a destruição política, organizativa e, sobretudo, ideológica do fascismo é bem mais lenta e difícil do que muitos pensavam". O escrito de Lukács deve remontar o final da Segunda Guerra Mundial (não achei a data exata do escrito no livro) e a coletânea é de 2007. Ou seja, tudo antes ou muito antes dos tempos atuais. Engraçado como a gente pensa que o retorno do fascismo é uma coisa atual. Não, muito não, ele existe enquanto pensamento da humanidade, até muito antes do fascismo (bom estudar por quê). O que este fez foi se apropriar deste pensamento, sistematizar e aplicar. É o que acontece novamente. Digo tudo isso porque você diz que as situações são diferentes (sem discordância, de fato são, e precisa entender suas particularidades), mas a raiz desse pensamento vem de muito antes. Bjs.
ResponderExcluirDizem que Hannah Arendt afirmou uma vez que foi Hitler que perdeu a guerra, não o fascismo. Afinal porque os vencedores iriam jogar fora toda a "tecnologia" autoritária construída por Mussolini e Hitler se podiam fazer uso dela, ainda que de modo menos ostensivo? Mas claro que há muitas diferenças entre a situação italiana dos anos 20 e a nossa atualmente. Não vivemos, por exemplo, uma onda de greves e ocupações de fábricas recentemente, como aconteceu na Itália. Nem há a sombra de uma grande revolução como a russa. Além de muitos outras coisas. Mas nada disso nos serve de consolo. Ao contrário, estamos em muito pior situação. Beijo
Excluirtexto oportuno, meus parabéns.
ResponderExcluirObrigado
Excluir