Doses maiores

3 de março de 2020

Sanders: quando o voto útil é o voto incendiário

Em momentos eleitorais, a esquerda mais radical e combativa costuma ser pressionada a aceitar o chamado “voto útil”. Raramente, esse voto pragmático coincide com a opção mais próxima às propostas comprometidas com as lutas populares. Sua função seria apenas evitar o mal maior.

Pois não é o que vem acontecendo na campanha eleitoral pela presidência dos Estados Unidos. A candidatura considerada “incendiária” vem se mostrando a mais preparada para derrotar Donald Trump. É o que indica, por exemplo, recente matéria de Meagan Day e Matt Karp sobre as primárias democratas, publicada pela Revista Jacobin:

As pesquisas são unânimes: uma maioria considerável dos eleitores nas primárias dos democratas (entre 60% e 65%) dizem que é mais importante encontrar um candidato que possa vencer Trump do que um que eles concordem com as pautas. Isso não é um padrão para eleitores que fazem oposição a um presidente em exercício. Na prévia da sua campanha de reeleição em 2004, por exemplo, menos da metade de todos os democratas diziam o mesmo sobre George W. Bush.

Ao longo das primárias, Bernie Sanders e muitos de seus apoiadores têm argumentado que não é suficiente vencer Trump: precisamos nos organizar para transformar as condições econômicas abismais que produziram Trump também. E isso é extremamente verdadeiro.

Situações extremas exigem soluções extremas, costuma-se dizer. Mas a persistência dessas situações vem de longe. Não surgiram com Trump, por lá, ou Bolsonaro, por aqui.

É exatamente a recusa em enxergar a necessidade de combater radicalmente o extremismo capitalista que nos empurra para situações-limite que disputas eleitorais estão longe de resolver.

De qualquer maneira, agora somos Sanders.

3 comentários:

  1. Muito boa observação. Vamos deixar o problema do voto útil para de combater a extrema-direita para a direita.

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    1. Sim, mas é voto útil também porque Sanders dificilmente conseguiria fazer alguma coisa se eleito. Sua vitória seria uma contra a ditadura perfeita ianque, podendo abrir rachaduras nela. Mas não tenho qualquer esperança num governo realmente de esquerda.

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    2. Sim, Sergio, também não. Mas que eu adoraria ver o que podia dar, isso adoraria. Bjs

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