Doses maiores

11 de março de 2020

Itália,1919: fascistas e socialistas defendem propostas semelhantes

Jornada diária de oito horas de trabalho, salário mínimo, representantes sindicais nos conselhos diretores das empresas, gestão das indústrias por seus trabalhadores, imposto progressivo sobre o capital, expropriação parcial das riquezas.

As exigências acima são algumas dentre aquelas publicadas em 6 de junho de 1919 no jornal “O Povo da Itália”. É o programa dos fascistas aprovado em um encontro nacional realizado meses antes.

Como relata Antonio Scurati, em seu livro “M, O Filho do Século”, as propostas são quase as mesmas defendidas pelos socialistas revolucionários, que se posicionam à esquerda dos reformistas. Ele foi concebido para converter simpatizantes comunistas em militantes fascistas. Semelhante ao que aconteceu com o próprio Mussolini.

Mas a esperteza só poderia dar resultado porque a crise social atravessada pela Itália logo após a Primeira Guerra é enorme. Era preciso apresentar respostas a uma revolta popular que se torna cada vez mais raivosa.

Como diz o autor:

O caos é total, crescente, generalizado. Mas é apenas caos. A revolução é outra coisa e os líderes socialistas são completamente incapazes de direcionar essa revolta espontânea para a conquista do poder.

Era assim que pensava Mussolini. E, infelizmente, ele estava certo.

Mas não se trata de simplesmente condenar a cúpula socialista por sua vacilação e covardia política. Ou de considerá-los meros incapazes de seguir o corajoso exemplo dos bolcheviques russos.

A monarquia parlamentar italiana era muito diferente da ditadura czarista russa. São tais diferenças que Gramsci viria a estudar, produzindo sua grande obra.

Mas é importante destacar que o próprio poder bolchevique teve influência no fracasso italiano. É o que veremos a seguir.


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