No livro
“A ralé brasileira”, Jessé Souza utiliza o conceito de “má-fé institucional”. Trata-se
de:
...um padrão de ação institucional que se
articula tanto no nível do Estado, através dos planejamentos e das decisões
quanto à alocação de recursos, quanto no nível do micropoder, quer dizer, no
nível das relações de poder cotidianas entre os indivíduos.
Este fenômeno seria responsável por enfraquecer aquela que deveria ser a função
mais importante dos serviços públicos: a diminuição das injustiças sociais.
Na escola, por exemplo, os filhos de famílias pobres chegam completamente despreparados
para uma disciplina que só pode ser assimilada por quem já a exercita em casa. Muitos
dos pais desses alunos também foram excluídos da educação escolar pelo mesmo motivo.
Ainda assim, essas crianças encontram acolhida adequada por parte de apenas alguns
professores. Em geral, o sistema escolar rende-se aos valores meritocráticos e as
abandona. Desse modo, muitas vezes, acentua ao invés de moderar as diferenças sociais
entre os alunos.
No sistema de saúde, a obra destaca o que chama de “animalização” dos pacientes
mais pobres. Há esforços sinceros para curá-los e salvar-lhes da morte. Mas quase
sempre na condição de portadores de uma vida, não de direitos.
Esse tipo de abordagem sempre corre o risco de culpar as pessoas e isentar o
sistema. No entanto, o próprio livro lembra que os profissionais que resistem a essa institucionalidade
mal intencionada são exatamente aqueles que se engajam nas lutas sociais.
Precisamos continuar buscando respostas na luta de classes. Mas elas somente surgirão
se desafiarmos as lógicas de dominação a que aderimos como indivíduos.
Leia também: Os maiores derrotados pela meritocracia
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