O Supremo Tribunal Federal está discutindo um pedido de indenização a um
presidiário que sofreu tratamento desumano durante o cumprimento de sua pena. Mas
o que mais surpreende não é o valor reclamado: R$ 2 mil.
As prisões brasileiras são um exemplo da oposição que Michel Foucault identificou
entre os conteúdos “manifestos” e “latentes” das instituições sociais. O filósofo
francês se inspirou na teoria dos sonhos de Freud para chegar a estes
conceitos.
Para Freud os sonhos teriam uma aparência que esconde os reais desejos do
sonhador. Para interpretá-los, seria preciso descobrir o que está latente por
trás de seu conteúdo manifesto.
A função das prisões aceita socialmente é “reeducar os detentos”, “ressocializá-los”,
“devolvê-los ao convívio social”. O objetivo latente delas é jogar aqueles que são
acusados de crimes na cadeia para que sofram os piores castigos.
A escola pública é outro exemplo dessa lógica. Seu papel seria oferecer educação
de qualidade para todos. O que o sistema de dominação realmente espera dela é apenas
a seleção daqueles capazes de superar sua origem pobre.
O restante deve se contentar com uma instrução mínima para trabalhos desqualificados
e mal pagos. Ou simplesmente deve ser mantido longe das ruas, onde poderia
colocar em perigo a ordem pública.
O principal alvo desses mecanismos sociais são os mais pobres entre os pobres. Aqueles
que Jessé Souza estudou em seu livro “A ralé brasileira” e no qual aparecem os
conceitos acima.
Mas que o Supremo esteja discutindo uma indenização, ao invés da imediata melhoria
das prisões e o fim do encarceramento da pobreza está longe de
manter qualquer aparência.
Leia também: A “má-fé institucional” nos serviços
públicos
Nenhum comentário:
Postar um comentário