Doses maiores

23 de novembro de 2015

Em Mariana, poesia que dói

 Amarildo
Circula na internete um poema de Carlos Drummond considerado profético em relação ao crime ambiental cometido pela Vale, em Mariana, Minas Gerais. Trata-se de “Lira Itabirana”, cujos primeiros versos dizem: “O Rio? É doce/ A Vale? Amarga/ Ai, antes fosse/ Mais leve a carga”.

Muito da justa revolta em relação à poderosa mineradora costuma lembrar que se trata de uma empresa privatizada. Mas o poema de Drummond é de 1984, bem anterior à entrega da companhia a preço de banana estragada ao mercado. Além disso, a estrofe II deixa bem claro que “Entre estatais/ E multinacionais,/ Quantos ais!”.

Portanto, não se trata apenas da costumeira irresponsabilidade de um mercado dominado por enormes monopólios privados. É a própria atividade que tem caráter destrutivo.

É o que mostra Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais. Em outro texto que vem circulando na rede, ele lembra:

Em novembro de 1867, na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, um desabamento matou 17 escravos e um trabalhador inglês. Em novembro de 1886, novo desastre no mesmo lugar.

Mais recentemente, rompimentos de barragens nas minas de Fernandinho (1986) e Herculano (2014), em Itabirito; Rio Verde (2001), em Nova Lima; e Rio Pomba (2008), em Miraí. Todas com dezenas de mortes e prejuízos irreversíveis ao meio ambiente.

A mineração, tal como praticada no modo de produção capitalista, estatal ou não, gera poucos empregos e vicia as economias que dela dependem. Destrói cidades, pessoas, matas, bichos. Só a poesia escapa. Mas pergunta, dolorida, quanto tempo ainda disfarçaremos as lágrimas “sem berro?”

Um comentário:

  1. É verdade,embora quando estatal tivesse algum compromisso,como dizem alguns moradores do Pará em vídeo de anos atrás,na época da campanha A Vale é nossa,mas sob domínio privado é pura barbárie.

    Mariângela

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