Em 12/03, o Estadão publicou a entrevista “Mãos ainda
sujas”, feita por Andrei Netto com o juiz italiano Antonio Di Pietro. Trata-se
do principal organizador da famosa operação “Mãos Limpas”, que teria inspirado a
operação “Lava Jato”.
Iniciada em 17 de fevereiro de 1992, a operação também começou
por uma empresa pública-privada da indústria petroquímica. E também envolveu o pagamento
de gordas propinas a líderes de partidos políticos.
No total, foram 3.200 pessoas julgadas e 2.500 condenadas.
Mas, em 2000, apenas quatro delas estavam presas ou cumpriam penas por
sentenças definitivas. Segundo o depoente:
Mais de 40% dos processos contra
parlamentares foram anulados porque o Parlamento manteve a imunidade de seus
pares, e outros tantos porque Berlusconi criou e alterou leis que resultaram na
anistia de acusados ou na prescrição de crimes.
Pietro ainda diz que “a Itália de 1992 e a Itália de 2016
são a mesma”. Nada mudou. Isso só foi possível, diz ele, “porque a Itália é
cheia de Berlusconis”. Mas alertou: “Brasília também é”.
Pode ser, mas o entrevistado usa um conceito que pode
explicar melhor essa persistência da corrupção. É o de “ação ambiental”.
Segundo ele:
...o dinheiro circulava como o sol
nasce toda manhã. Não era mais necessário que uma empresa oferecesse, nem que
um político pedisse dinheiro. Era automático.
Automatismos desse tipo não faltam na política
contemporânea. Nos Estados Unidos, por exemplo, são até legalizados. É assim
que a política institucional se relaciona com a economia de mercado.
No máximo, a Lava-Jato pode limpar alguma sujeira. Jamais
a lama em que está mergulhada a democracia controlada pelo grande capital.
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apocalipse
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