Amigos do século 19, escrevo-lhes novamente
direto do Brasil, no ano de 2016, onde vim parar sem saber como ou porque.
Dentre as muitas coisas prodigiosas
que testemunhei, uma em especial muito me espantou. Quando eu vivia aí, no começo
dos anos 1800, costumava denunciar os privilégios hereditários, em que a origem
aristocrática se coloca acima dos méritos e esforços pessoais.
Duzentos anos depois, porém, percebo que
pouca coisa mudou.
No mundo jurídico, por exemplo, somente
alguns poucos, nascidos em “berço de ouro”, chegam aos mais altos tribunais. Na
medicina, as melhores ocupações são dominadas por pessoas de famílias abastadas.
Entre os generais, ocorre o mesmo.
A regra vale para a maioria das
ocupações de maior prestígio. E, ainda que não seja este o caso dos políticos,
metade dos atuais parlamentares do País “herdaram” os votos de seus parentes.
Claro que surgem, vez por outra, um
cirurgião ou um alto magistrado negro. Mas as novas dinastias usam tais exceções
para alegar que o esforço individual supera tudo. Por trás dessa esperteza a
que dão o nome de “meritocracia” oculta-se a regra que dá caráter quase hereditário
à ocupação dos altos escalões sociais.
Enfim, parece não passar de retórica
vazia a igualdade de oportunidades que o advento da sociedade burguesa nos
prometeu. Em grande parte, continuam a valer vantagens legadas pelo sangue.
Foi sangue, aliás, que alguns de meus
predecessores no século 18 derramaram em profusão no combate a privilégios
odiosos como esses. Naquela época, usaram a guilhotina. Estou ansioso para
saber o que vão utilizar nos tempos que correm.
muito bom.
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirAbraço