Em 1973, Luis Fernando Verissimo
publicou o conto “O Popular”. Veja, abaixo, um exemplo de como se comportava o
personagem principal da narrativa:
Os jornais mostravam tanques na
Cinelândia protegidos por soldados de baioneta calada e lá estava o Popular,
com um embrulho embaixo do braço, examinando as correias de um dos tanques.
Pancadaria na Avenida? Corria polícia, corria manifestante, corria todo mundo,
menos o Popular. O Popular assistia. Cheguei a imaginar, certa vez, uma série
de cartuns em que o Popular aparecia assistindo ao Descobrimento do Brasil, à
Primeira Missa, ao Grito da Independência, à Proclamação da República...
Aí vêm as eleições municipais. No Rio
de Janeiro, por exemplo, 40% dos eleitores podem mudar seu voto na última hora.
Ninguém sabe direito em que direção. Em São Paulo, o PT não consegue entender
por que seu prefeito está nas últimas colocações.
Talvez, se substituíssemos o “Popular”
de Verissimo pelo “Eleitor” alguma coisa se esclarecesse. O fato é que o eleitor
médio é uma abstração que vota a cada dois anos. No máximo, elege alguém que corresponde
vagamente a suas expectativas. Depois disso, a política se mantém distante de
sua vida.
A verdade é que a democracia contemporânea
separa o trabalhador do cidadão, mesmo que sejam a mesma pessoa. Nesta condição,
o eleitor continua a ver passarem diante de si cortejos dos quais não
participa. Do “Descobrimento do Brasil” à “Proclamação da República”.
Enquanto nós, da esquerda, insistirmos
em enxergar no Eleitor a inteireza do Popular, continuaremos a fazer parte,
mesmo sem querer, das caravanas que passam ao largo de sua vida.
Leia também: No horário eleitoral, o sabão de
Hitler
Muito bom
ResponderExcluirMuito bom
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