No início dos anos 1990, ficou famoso o “Café-da-manhã da
Xuxa” exibido diariamente na TV. Uma refeição matinal cheia de frutas,
iogurtes, sucos, frios, bolos e pães. Enquanto isso, a audiência infantil das
periferias olhava para o banquete com água na boca e barriguinhas roncando.
Em 2014, levantamento feito pelo Ibope indicou que a TV
brasileira exibe 67 programas de culinária em mais de 70 canais abertos e
pagos. Esta febre gourmet não seria o equivalente atual do café que a Xuxa exibia
no século passado?
Se é verdade que a questão mais grave já não é a falta do
que comer, o que preocupa é a qualidade do que ingerimos. Cozinhar fica cada
vez mais difícil depois de jornadas de trabalho extensas e das muitas horas
gastas em intermináveis engarrafamentos.
Assim, acabamos assistindo cozinheiros, cozinheiras e
“chefs” em ação como vemos futebol. Bem longe do fogão e da bola.
É verdade que muitos desses programas incentivam uma
alimentação mais saudável, com alimentos frescos e ingredientes naturais. Mas na
vida real engolimos cada vez mais produtos industrializados, temperados com muito
hormônio e agrotóxico.
Afinal, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria
de Produtos para Defesa Vegetal, as vendas de pesticidas em 2015 chegaram a US$
9,6 bilhões no Brasil. E, em 2014, foram mais de 914 mil toneladas de
agrotóxicos comercializadas.
Talvez seja injusto comparar tudo isso ao café da Xuxa. Muitos
já nem se lembram desse evento traumático de suas infâncias. Estamos ocupados
demais tratando as patologias causadas por nossa ração química diária. E se a febre gourmet não denuncia, é cúmplice.
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