Doses maiores

12 de janeiro de 2017

O joio e o trigo na Revolução Russa

“Centenário da revolução de 17 merece mais história e menos propaganda”, diz Elio Gaspari, em artigo publicado na Folha, em 11/01.

O colunista cita algumas imprecisões históricas que cercam a revolução liderada pelos bolcheviques. Mesmo partindo de alguém que escreveu quatro grossos volumes dedicados a isentar o empresariado dos crimes cometidos pela ditadura de 1964, a advertência é válida.

Para começar, é preciso admitir que, muitas vezes, a própria esquerda divulga versões equivocadas, que alimentam uma visão autoritária, truculenta e grosseira da revolução. Ao fazer isso, no lugar de atrair novos militantes para a luta socialista, pode afastá-los. O que acaba sendo muito conveniente para os defensores da ordem.

Uma das imprecisões mais correntes sobre a Revolução de Outubro é destacada pelo próprio Gaspari. Segundo ele, seria injusto abordá-la como se “tudo parecesse ter começado com o golpe de outubro de Lênin e dos comunistas”. Realmente, basta ler os testemunhos de Leon Trotsky, por exemplo, para desmentir esta visão simplista.

Mas há outras imprecisões. Várias delas tão persistentes que se transformaram em mitos. É o caso da ideia de que a revolução foi obra de um partido comandado pelas mãos de ferro de Lênin. Ou da imagem da vitória bolchevique como produto da intervenção do poderoso e lendário Exército Vermelho.

Contra tais equívocos, recomenda-se a leitura de obras históricas bem documentadas. É o caso de “The Bolsheviks Come to Power” (“Os Bolcheviques Chegam ao Poder”), de Alexander Rabinowitch, ainda sem tradução. E a ele que recorreremos para tentar separar o trigo da história do joio da propaganda. Ainda que a convivência entre ambos seja inevitável.

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