“Centenário
da revolução de 17 merece mais história e menos propaganda”, diz Elio Gaspari,
em artigo publicado na Folha, em 11/01.
O
colunista cita algumas imprecisões históricas que cercam a revolução liderada
pelos bolcheviques. Mesmo partindo de alguém que escreveu quatro grossos
volumes dedicados a isentar o empresariado dos crimes cometidos pela ditadura de
1964, a advertência é válida.
Para
começar, é preciso admitir que, muitas vezes, a própria esquerda divulga
versões equivocadas, que alimentam uma visão autoritária, truculenta e
grosseira da revolução. Ao fazer isso, no lugar de atrair novos militantes para
a luta socialista, pode afastá-los. O que acaba sendo muito conveniente para os
defensores da ordem.
Uma das
imprecisões mais correntes sobre a Revolução de Outubro é destacada pelo
próprio Gaspari. Segundo ele, seria injusto abordá-la como se “tudo parecesse
ter começado com o golpe de outubro de Lênin e dos comunistas”. Realmente,
basta ler os testemunhos de Leon Trotsky, por exemplo, para desmentir esta
visão simplista.
Mas há
outras imprecisões. Várias delas tão persistentes que se transformaram em mitos.
É o caso da ideia de que a revolução foi obra de um partido comandado pelas
mãos de ferro de Lênin. Ou da imagem da vitória bolchevique como produto da
intervenção do poderoso e lendário Exército Vermelho.
Contra tais
equívocos, recomenda-se a leitura de obras históricas bem documentadas. É o
caso de “The Bolsheviks Come to Power” (“Os Bolcheviques Chegam ao Poder”), de
Alexander Rabinowitch, ainda sem tradução. E a ele que recorreremos para tentar
separar o trigo da história do joio da propaganda. Ainda que a convivência entre
ambos seja inevitável.
Leia também:
Por uma arqueologia da Revolução Russa
Nenhum comentário:
Postar um comentário